O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Pica Miolos

A polícia, que não gosta que lhe chamem bófia, tirou a faixa da fachada da CasaViva. Não foi por não gostar que lhe chamem bófia, mas por achar que incitava à violência. A faixa foi retirada a 5 de Janeiro, dia a seguir a um jovem português morrer baleado por um polícia. A faixa fora colocada a 20 Dezembro, dia internacional de solidariedade com a luta do povo grego, desencadeada pela morte de um jovem grego baleado por um polícia.


Exemplo flagrante do aumento da repressão aconteceu em França, em Novembro passado: 20 pessoas foram detidas numa mega-operação policial; uma ainda está presa, nove foram acusadas de terroristas. Ontem em França, amanhã…


Portugal, Almada, Janeiro: uma acção de defesa de uma zona pedonal termina com uma inusitada descarga policial. “Custa realizar que a polícia portuguesa não distingue uma dúzia de jovens, mulheres e crianças rodeados por idosos e cujas armas eram tambores e flyers, de um grupo de terroristas com caçadeiras”, lamenta Lanka Horstink.


Porto, Março: três pessoas foram multadas por terem participado numa manifestação por melhores transportes públicos. Em Janeiro, o julgamento de quatro activistas acusados pelo SEF de “difamação agravada” transitou do Tribunal do Bolhão para o de S. João Novo, designado “mais competente para julgar o caso”.


Na Suécia, quatro responsáveis pelo site de partilha de ficheiros Pirate Bay foram condenados a prisão e a avultadas multas. Ao myspace, chegou a censura.


Na CasaViva, os mais recentes episódios envolvendo a autoridade não se limitaram à apreensão de uma faixa e atingiram requintes dramáticos de romance policial, com um mistério por desvendar transformado em comédia. Talvez a saída passe por gozar com isto tudo e seguir o exemplo do grupo de anarquistas galegos.


Por tudo isto e muito mais, e porque o Pica Miolos continua a seguir critérios necessariamente tendenciosos, este número é dedicado à repressão da autoridade, que cada vez mais aperta o cerco. Trinta e cinco anos sobre a revolução de Abril, os cravos estão definitivamente murchos. O admirável Portugal novo vê-se confrontado com vícios de ditadura e revoluções encravadas.

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