O Pica Miolos
A polícia, que não gosta que lhe chamem bófia, tirou a faixa da fachada da CasaViva. Não foi por não gostar que lhe chamem bófia, mas por achar que incitava à violência. A faixa foi retirada a 5 de Janeiro, dia a seguir a um jovem português morrer baleado por um polícia. A faixa fora colocada a 20 Dezembro, dia internacional de solidariedade com a luta do povo grego, desencadeada pela morte de um jovem grego baleado por um polícia.
Exemplo flagrante do aumento da repressão aconteceu em França, em Novembro passado: 20 pessoas foram detidas numa mega-operação policial; uma ainda está presa, nove foram acusadas de terroristas. Ontem em França, amanhã…
Portugal, Almada, Janeiro: uma acção de defesa de uma zona pedonal termina com uma inusitada descarga policial. “Custa realizar que a polícia portuguesa não distingue uma dúzia de jovens, mulheres e crianças rodeados por idosos e cujas armas eram tambores e flyers, de um grupo de terroristas com caçadeiras”, lamenta Lanka Horstink.
Porto, Março: três pessoas foram multadas por terem participado numa manifestação por melhores transportes públicos. Em Janeiro, o julgamento de quatro activistas acusados pelo SEF de “difamação agravada” transitou do Tribunal do Bolhão para o de S. João Novo, designado “mais competente para julgar o caso”.
Na Suécia, quatro responsáveis pelo site de partilha de ficheiros Pirate Bay foram condenados a prisão e a avultadas multas. Ao myspace, chegou a censura.
Na CasaViva, os mais recentes episódios envolvendo a autoridade não se limitaram à apreensão de uma faixa e atingiram requintes dramáticos de romance policial, com um mistério por desvendar transformado em comédia. Talvez a saída passe por gozar com isto tudo e seguir o exemplo do grupo de anarquistas galegos.
Por tudo isto e muito mais, e porque o Pica Miolos continua a seguir critérios necessariamente tendenciosos, este número é dedicado à repressão da autoridade, que cada vez mais aperta o cerco. Trinta e cinco anos sobre a revolução de Abril, os cravos estão definitivamente murchos. O admirável Portugal novo vê-se confrontado com vícios de ditadura e revoluções encravadas.
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