O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CCL ameaçado de despejo

Apenas o recurso mantém suspensa a ordem de despejo do Centro de Cultura Libertária, em Cacilhas, emitida pelo Tribunal de Almada. O CCL é um dos raros locais anarquistas que se mantém em Portugal, criado logo após a revolução de Abril.


O espaço é um encanto, num primeiro andar, com sótão, de um prédio centenário muito próximo do cais fluvial de Cacilhas, em Almada. Foi criado há 35 anos por velhos anarquistas. Mantém os ideais de sempre e um espólio especial. Corre o risco de despejo, por vontade do proprietário e anuência judicial, conforme sentença de 2 de Novembro passado, que deu então 20 dias ao Centro de Cultura Libertária para abandonar a sua casa. O CCL recorreu e aguarda-se agora a decisão final do tribunal, que pode anular a ordem de despejo, levar a um novo julgamento ou reiterar a sentença já emitida. Não se pode prever qual será a decisão ou quanto tempo esta levará a ser tomada. Sabe-se apenas que, caso o recurso seja recusado, o CCL tem 10 dias apenas para abandonar o seu espaço.


Na decisão do tribunal não foram tidas em conta as testemunhas do CCL, incluindo dois vizinhos, que desmentem as acusações do proprietário quanto ao suposto ruído que o centro produziria e à realização, por parte do mesmo, de pretensas festas que se prolongariam pela madrugada. A motivação do senhorio, proprietário de vários edifícios na região de Lisboa, parece clara: despejar uma associação que paga uma renda mensal baixa (52,50 euros) e cujo contrato só pode ser rescindido através de uma acção de despejo, abrindo assim o caminho à rentabilização do imóvel.


O CCL é único pela sua longevidade e pelo papel de preservação da memória histórica libertária que desempenha, mas também pela ligação afectiva que gerou em várias gerações de anarquistas, que nele encontraram um espaço de aprendizagem, de experimentação e divulgação das suas ideias, um espaço fundamental de pensamento, cultura e liberdade. Possui uma biblioteca e um arquivo únicos em Portugal, com material editado ao longo dos últimos cem anos, assim como uma livraria de cultura libertária.


”À semelhança dos/as companheiros/as que lutaram para que este espaço existisse, resistiremos uma vez mais, e NÃO perderemos o CCL nem às mãos dos tribunais, nem da especulação imobiliária, nem por nada”, garantem, em comunicado distribuído à população local e disponível na Internet, os actuais arrendatários do espaço. Para tal, apelam à solidariedade de todos os que também sentem que este espaço, parte integrante da identidade e da memória histórica de Cacilhas, deve continuar onde sempre esteve. E a solidariedade passa também pelo apoio monetário, que continua a ser fundamental para enfrentar os elevados custos de um processo judicial.


culturalibertaria.blogspot.com

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