O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Não seríamos mais de uma dúzia

8 de Julho, baixa do Porto

Não seríamos mais de uma dúzia, os que decidimos acorrer ao apelo da Iniciativa Libertária do Porto para uns momentos de agitação e informação sobre a luta dos povos indígenas e camponeses do Peru contra a voragem das multinacionais e a cobertura que o Estado peruano, como qualquer outro, lhe dá.


Aproveitando os vidros dum edifício devoluto que são uma base quase quotidiana de colagem de cartazes de actividades de entretenimento, colamos um painel alusivo ao que ali nos levava e iniciamos a distribuição de folhetos explicativos, em Sampaio Bruno. Ora, esse tal edifício faz esquina com Sá da Bandeira, artéria mais movimentada, aberta ao trânsito e com paragens de autocarros, pelo que nos pareceu inteligente que, sem mudar de edifício, colássemos um segundo painel noutra rua.


Aí, o mesmo esquema, duas pessoas a colarem vagarosamente as 20 folhas A3, mais meia dúzia a distribuir panfletos a quem passava. Antes de termos metade do trabalho acabado, apareciam os já quase omnipresentes agentes da autoridade, desta vez, para variar e rematar leques iniciados anteriormente, da polícia municipal, a explicarem-nos que não se pode colar cartazes ali, que é indiferente que não seja directamente nos vidros mas em cima doutros cartazes a anunciar a próxima peça do La Féria no seu Rivoli, cartazes esses cujos coladores não tinham sido importunados pela polícia por, lá está, afinal serem omnipresentes apenas nas nossas actividades.


Como apontamento de humor surreal, note-se que um dos cartazes exposto num dos vidros desse mesmo edifício anunciava as corridas de pópós da Boavista, organizadas pela mesma Câmara cujo regulamento proíbe que ali se colem cartazes. Vinham para identificar um, lá se convenceram que tinham que identificar todos e acabaram por não identificar ninguém.


À parte este já recorrente encontro com as força da ordem, fraquitas, no caso, cujo diálogo daria, por si só, para um texto, há a reter algumas coisas. A primeira é que a baixa do Porto não tem hora de ponta. As ruas estão semi-desertas. Conseguimos, ainda assim, distribuir largas dezenas de folhetos a quem passava por lá. Os restantes foram e continuam a ser distribuídos noutros locais.

Por fim, a também habitual nota de tristeza referente à pouca participação, principalmente porque o ajuntamento fazia parte da estratégia para chamar a atenção e afiar a curiosidade. Esta não era uma acção de massas, não se tratava duma manifestação, nem sequer duma concentração, e o dobro da malta teria chegado para criar um aglomerado de gente suficientemente estranho para que mais pessoas se tivessem interrogado sobre o que se estava a passar e lessem, com redobrada atenção, o papel que recebiam.


Ainda assim, valeu a pena, porque haverá sempre alguém que, pelo menos, ficou a saber duma situação que os média pura e simplesmente calaram.



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