O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

sábado, 4 de agosto de 2007

Foi bonito, pá!

1ª MGM Porto
Ninguém pôs máscaras. Nem na praça do marquês de pombal, nem pelo Bonjardim, Sta. Catarina, Sá da Bandeira abaixo até à praça D. João I. Olhares sorridentes enfrentavam as máquinas fotográficas, agitando o corpo ao som do reggae. Nunca as ruas da cidade cheiraram tão bem como nessa tarde de 5 de Maio, primeira marcha no Porto pela legalização da marijuana. Mil aderiram, seguramente.
Os jornais registaram entre 500 e 1000 participantes: mais de mil pessoas, disse a organização; metade, contou a polícia. A marcha teve autorização do governo civil e viaturas da PSP a abrir e a fechar. A ladear, agentes de trânsito com coletes verdes. Do verde lima das bandeirinhas de papel crepe, projectadas para tapar a cara de quem se quisesse esconder.
Mas quem se quis esconder não apareceu. Perdeu a festa, havia sol, cor e alegria. Uma reivindicação: acabar com o proibicionismo da cannabis, legalizar a produção e o consumo.
Produto natural q.b., conta a História de Portugal que antes das vinhas que dão vinho do Porto, o cânhamo se dava muito bem no micro clima do Douro Superior. Hoje, há um total desprezo pelas qualidades têxteis do cânhamo. Das qualidades energéticas, poucos querem falar.
O assunto está disponível em http://www.mgmporto.org/. Os jornalistas não lhe pegaram. Registaram sobretudo o aspecto recreativo do consumo da marijuana. Uma ou outra reportagem dedicada à marcha, mas o facilitismo dominou a cobertura noticiosa do assunto. As primeiras notícias sobre as MGM Porto e Lisboa reproduziam, no essencial, o take da Lusa. À excepção, por razões opostas, de “O Primeiro de Janeiro”, que publicou uma entrevista a José Luís Fernandes, investigador mandatário da MGM, e de o “Correio da Manhã”, que acompanhou a notícia com fatídicas conclusões de “vários estudos científicos” sobre as consequências do consumo da cannabis. Que a RTP1 difundiu no “jornal das 8” no domingo seguinte à conferência de imprensa da MGM Porto, a 29 de Março. “Quantas pessoas esperam?” A pergunta dos jornalistas repetia-se na véspera da marcha. Era impossível fazer prognósticos, era a primeira vez no Porto.
A Marcha Global pela Marijuana é um encontro anual que começou em Nova Iorque, 1999. Actualmente, realiza-se em mais de 200 cidades do Mundo, no primeiro sábado de Maio. Números oficiais contabilizam 160 milhões de consumidores de cannabis sativa, ou seja, 4% da população mundial. É considerada a “droga leve” mais massificada mundialmente.
Luís Fernandes, autor do livro “O Sítio das Drogas”, alerta que, “mais do que drogas leves e duras, existem consumos leves e consumos duros”. Defende a educação para o consumo como um preventor do risco, sem negar que a cannabis tem o seu grau de perigosidade, tanto mais que é fumada enrolada com tabaco, “uma substância mais problemática do que a cannabis, já que tem mais capacidade de produzir adição”. E, contudo, legal. Sem precisar de marcha alguma.

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