O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Fora da Lei

Rui Rio, cuja auto-propaganda quer fazer passar por autarca modelo, comporta-se como um fora da lei. Não é de hoje, vem de trás. O caso Rivoli é simplesmente mais uma confirmação. Começou com as irregularidades do pseudo-concurso através do qual entregou o Rivoli ao empresário La Féria e continua agora com o desrespeito da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto que considerou estar todo o processo "profundamente afectado por ilegalidades", significando isso que fica suspensa a deliberação da CMP de atribuir a La Féria a concessão da exploração do Rivoli.

A decisão é clara para toda a gente: La Féria devia fazer as malas, regressar a Lisboa e libertar o Rivoli para que este possa retomar a sua vocação de teatro municipal, para a qual foi recuperado e equipado com dinheiros públicos. Mas o que é claro para todos, turva-se na mente rebuscada e perversa de Rui Rio. Aquilo que foi um concurso promovido, organizado e realizado pela CMP - e agora declarado ilegal, deixou de o ser e passou a ser um simples convite da câmara a La Féria. La Féria não é um concessionário, é um convidado da Câmara. E como é um convite, a companhia de La Féria manter-se-á no Rivoli até ao dia em que Rui Rio dê o convite por esgotado. Rui Rio igual a si próprio: quero, posso e mando. Leis? Juízes? Sentenças? Isso é para os outros respeitarem. Outros, a quem Rui Rio - o virtuoso, passa a vida a apontar o dedo.

Rui Rio não gosta da actividade cultural, prefere corridas de calhambeques e donas elviras. Além do mais para estas nem se perde tempo com essa fantochada dos concursos. A cultura é um desperdício de tempo e de dinheiro. Ainda por cima , os artistas têm essa mania estúpida de ser gente independente, com espírito crítico e que pensa pela sua cabeça. Na sua visão curta, Rui Rio acha que o povo não gosta e muito menos merece conviver com a cultura e as artes. Suspeita mesmo que lhes possa fazer mal ou até arrastá-los para maus caminhos. Diversão, espectáculo, entretenimento, fantasia, glamour, teatro de casino: isso sim, nisso é que vale a pena apostar e gastar o dinheiro da autarquia, naturalmente, para bem dos portuenses e do seu sossego. A vida é tão difícil que o melhor é enganá-la com o can-can e o cha-cha-cha dos La Férias e derivados. E, de engano em engano, lá chegaremos às próximas eleições. Nas quais, Rui Rio espera que o povo lhe seja reconhecido.

Há muito - ainda nem se falava no assunto e muito menos no concurso, que a cidade sabia que La Féria viria a tomar conta do Rivoli. Tudo estava combinado entre o autarca e o empresário. O concurso - a que estava obrigado, não foi mais que um disfarce, um estratagema, para esconder o negócio previamente acordado. Mas nem o povo é ceguinho, nem os artistas andam distraídos. A contestação foi grande, ninguém se calou. E aquilo que Rui Rio julgava serem favas contadas, tornou-se assunto de primeira página nos jornais e presença obrigatória nos alinhamentos dos telejornais. Tudo má vontade dos jornalistas, claro está: um deles até se atreveu a participar na manifestação contra a entrega do Rivoli. E para que constasse, Rui Rio não se esqueceu de o mandar filmar, bem ao jeito do antigamente. Para cúmulo, até os tribunais lhe recusaram razão.

Rui Rio está furioso e reagiu como é seu costume: bilioso e vingativo, reclama o afastamento da juíza que tem a seu cargo a apreciação de uma segunda providência cautelar sobre o Rivoli, acusando a juíza de falta de isenção e imparcialidade por ter assinado uma petição contra as obras de requalificação da Baixa do Porto, com as quais Rui Rio pretende ficar na História. A esta hora, também os juízes têm lugar reservado na galeria dos ódios de estimação de Rui Rio, lado a lado com artistas e jornalistas.

João Semedo
esquerda.net

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