O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

domingo, 6 de abril de 2008

Abrigados mas livres

Sendo a mobilidade um sinal dos tempos, onde o local de trabalho e de estudo é agora um lugar cada vez mais temporário, onde com mais frequên­cia temos a necessidade de recomeçar as nossas vidas, evitando uma con­juntura socioeconómica e política cada vez mais repressiva, o que parece fazer sentido é desenvol­ver uma lógica do mer­cado de arrendamento mais favorável. Ao invés de continuar a favorecer os lobbies da construção, do betão e das imobi­liárias, onde a compra de casa atinge preços absurdos, num mercado que insiste em assim per­manecer, apesar da falta de poder de compra da classe média, apesar dos grandes centros urbanos transformarem o seu tecido em tecido devo­luto, criando as condicio­nantes para a sua ruína.

Entretanto, aumenta a promiscuidade das autarquias com bancos, imobiliárias e grandes empresas de construção. Em que estas megaestruturas económicas financiam as campanhas dos partidos po­líticos com mais representatividade no país e, à troca, viciam-se os concursos de arquitectura, enriquecendo cada vez mais os caciques da construção que dividem entre si o território nacional.

O que parece fazer sentido é rentabilizar os recursos existentes, preservar e re­ciclar, num esforço e numa lógica de arquitectura sustentável. No entanto, abrimos espaço a uma construção de arquitectura duvidosa e descaracteri­zante, caminhando para cidades sem história, com edifícios transformados em autênticas máquinas de gerar dinheiro e onde to­dos os intervenientes têm responsabilidades.

E, no meio deste absurdo, deixa de ser rentável para os senhorios manter as suas propriedades sem exage­rar no valor da renda e para os arrendatários aguentar esta despesa, onde com­prar casa já não é investi­mento, mas, sim, certeza de endividamento.

Afinal, o que parece fazer sentido é alienar todo o património edificado. Para quem e para quê? Não sei, se calhar para todos e para ninguém, pois todos precisamos de um abrigo, mas não precisamos de ser donos desse território, pois de recolectores passamos de novo a caçadores de uma vida melhor e mais diversifica­da como contraponto desta globalização intoxicante.

O que precisamos, de facto, é de nos sentirmos abrigados e livres e, nesse processo, tocar a Terra com cuidado.

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