O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

domingo, 6 de abril de 2008

Porta 65 entreaberta

Um ano e seis dias depois da primeira vez e oito meses e dezas­seis dias depois da segunda, os frics voltaram à CasaViva. Desta vez a convite do movimento Porta 65 Fechada, que promoveu, em Fevereiro, um fim-de-semana de contestação ao Porta 65, o novo programa de apoio ao arrendamento jovem. A energia da Fanfarra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa, vulgo FRICS, abriu as hostilidades no Porto. Imprevisto prenúncio: nesse mesmo mês, no último conselho de ministros, o gover­no alterou algumas das regras de acesso ao Porta 65 Jovem.

O Porta 65 Jovem substituiu o anterior Incentivo ao Ar­rendamento Jovem (IAJ) no final do ano. Mal foi anun­ciado, surgiu o Porta 65 Fe­chada, um movimento cí­vico apartidário contra as regras do programa. Razões da contestação: critérios de pré-selecção “absurdos”, ren­das máximas admitidas “desfasadas da realida­de”, taxa de esforço que “exclui a maio­ria dos jovens em início de actividade profissional”, redução da duração do apoio e orça­mento anual “claramente insuficiente”. A primei­ra fase de entrega de candidatu­ras ao Porta 65 Jovem decorreu entre 3 de Dezembro e 3 de Janeiro. Foram contabilizadas 3561 candidaturas, um número muito aquém das 20 mil es­peradas pelo governo.

O Porta 65 Fechada reforçou a contestação, reclamando a “alteração profunda” das condições de acesso ao novo programa, através da revo­gação do respectivo diploma legislativo. Nesse sen­tido, lançou uma petição on line e en­tregou, a 21 de Janeiro, uma carta a Cavaco Sil­va, pedindo a interfe­rência do Presidente da Repú­blica.

Para dias 9 e 10 de Feve­reiro, progra­mou um fim-de-semana de contesta­ção nalgu­mas cidades do país. Con­cretizou-se em Lisboa e no Porto, onde a tarde de domingo foi reservada a manifestações nas baixas das cidades.

No Porto, o desfile, de cerca de uma centena de pessoas, vindas de outras cidades do país, durou umas duas horas, da Praça da Batalha à Aveni­da dos Aliados. Indignadas com as novas regras de apoio ao arrendamento jovem, gritaram: "Porta 65 está fe­chada; é política de fachada". Dezoito dias depois, no últi­mo conselho de ministros do mês, o governo altera duas re­gras: aumenta os valores das rendas máximas admitidas e passa de 40 para 60% o peso máximo que as rendas po­dem ter no rendimento men­sal dos candidatos. Por outro lado, alarga a possibilidade de candidatura dos antigos beneficiários do IAJ a todas as fases do Porta 65. O Porta 65 Fechada “congratulou-se com algumas das alterações”, mas “criticou a duração do apoio, o orçamento e os valores da comparticipação das ren­das”, noticiou a Lusa.

FRICS com Porta 65 Fechada

Era já noite de sábado, 9 de Fevereiro, quando a Fanfar­ra Recreativa e Improvisada Colher de Sopa iniciou mais um memorável concerto num momento peculiar da sua carreira: um ano e seis dias depois de gravar o primeiro CD e a seis dias de fazer um ano que iniciou, em Aveiro, a Capitais*De*Distrito*Por*Ordem*Alfabética*Tour, con­forme enfatizou o Sr. Silva, percussões e organeta. Acom­panhavam-no, nessa noite, o Sr. Almeida, trompetes e asso­bios, o Sr. Costa, percussões, o Sr. Fernandes, contrabaixo, o Sr. Martins, saxofone, o Sr. Ricardo, sintetizador analó­gico, o Sr. Saldanha, bombar­dino e trombone, o Sr. Rocha, trompetes e percussões, e a Sra. Ana Luísa, guitarra e per­cussões, a estrear a presença feminina na fanfarra, como sempre coordenada pelo Dr. Hostilino, o Tele-Maestro.

Nessa noite, a CasaViva en­cheu, como um ano menos seis dias antes, no primeiro concer­to que acolheu dos FRICS, que então gravaram “AbraçoVivo”. Da primeira vez, em 3 de Feve­reiro de 2007, como da segun­da, em 24 de Maio seguinte, a fanfarra incendiou o público.No final, guitarra e contra­baixo acompanharam Antó­nia Reis na apresentação do hino do movimento Porta 65 Fechada, uma adaptação de "A Casa", de Vinicius de Mo­raes. Depois do jantar, houve projecção de vídeos do mo­vimento V de Vivienda que, em Espanha, luta pelo direi­to à habitação, mobilizando manifestações com milhares de pessoas, e de reportagens realizadas pelos media por­tugueses sobre o Porta 65 Jovem. O evento teve como principal objectivo mobilizar os jovens para a manifesta­ção da tarde seguinte.

porta65fechada.net
porta65.blogspot.com

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