O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Peru vende-se às multinacionais e manda massacrar indígenas

Para transpor para nível nacional as prerrogativas do Tratado de Comércio Livre (TCL) assinado com os EUA, o governo peruano impôs leis que facilitam a implantação de companhias petrolíferas, de gás, de minas ou ligadas à exploração florestal ou do turismo, concedendo o direito de exploração dos recursos naturais existentes, o que abalará por completo o modo de vida das populações e que levará a uma destruição ambiental sem retorno.


Em Maio de 2009, por ocasião do 4º Encontro Continental dos Povos e Nacionalidades Indígenas de Abya Yala (América), as comunidades presentes recusaram categoricamente a privatização da água, a presença de multinacionais e o modelo económico neoliberal. Durante cerca de dois meses, milhares de indígenas do Peru praticamente paralisaram a região da Amazónia peruana, com bloqueios nas principais vias de transporte e sabotagem de infraestruturas. Levantaram, assim, um debate nacional sobre os limites do desenvolvimento e sobre quem manda na Natureza. Deixaram também claro que não entregarão de mão beijada nenhuma das suas terras ancestrais.


A 4 de Junho, uma coordenadora de 1350 comunidades no Peru apelou ao “estado de insurreição” e a que se fizesse do dia 11 de Junho um dia de mobilização popular para destruição das leis que fomentam o investimento estrangeiro nas zonas ocupadas por autóctones. No dia 5 de Junho, a polícia peruana atacou brutalmente manifestantes na região de Bagua, no Norte do Peru, resultando na morte de cerca de 50 indígenas da floresta amazónica, em mais de 100 feridos e vários desaparecidos, tendo também sido detidas perto de 130 pessoas.


Com os seus planos a descoberto e as mãos sujas de sangue, o governo peruano teve que retroceder nos seus intentos de exploração, já não só da mão-de-obra dos trabalhadores mas também do próprio território e habitat do seu povo, em especial das comunidades camponesas e nativas. No dia 18 de Junho, numa maratona negocial no Congresso peruano, votou-se a derrogatória das leis e do regime jurídico para o aproveitamento das terras de uso agrário, que entregava à ferocidade das multinacionais os recursos existentes nos territórios das comunidades nativas. Nessa sessão histórica para as comunidades da selva, conseguiu-se um triunfo momentâneo. Momentâneo porque com a assinatura do TCL os territórios nativos já estão loteados a favor dos interesses económicos multinacionais.

Um assunto que os media calaram

Esta é uma luta que não é só dos povos amazónicos, mas que se alastra a todos nós, já que pretende preservar aqueles que são os poucos vestígios de um mundo selvagem que tem vindo a ser arrasado em nome de um dito progresso com o único objectivo de enriquecer alguns à custa da devastação do nosso planeta.


Em resposta ao apelo internacional da União Socialista Libertária do Peru, para a realização de iniciativas solidárias com a luta dos povos indígenas no dia 8 de Julho, a Rede Libertária – redelibertaria.blogspot.com – convocou para essa tarde uma concentração em Lisboa, e a Iniciativa Libertária do Porto promoveu, na baixa da cidade, uma acção de informação.


A tarde de Julho no Porto havia de terminar de modo insólito para quem apenas pretendia informar os transeuntes sobre um assunto que os media calaram. Seis meses depois, seguem dois registos, que ficaram por publicar, do mesmo episódio.

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