O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Índice

O Pica Miolos

Se não conseguir sintonizar a Rádio CasaViva, não mude de rádio, mude de computador

Indymedia Portugal reactivado

10 Anos de Seattle

Nos 80 anos de Zeca lembramos os 10 de Seattle

Eu voto aqui


CCL ameaçado de despejo

Polícia viola direito constitucional

Peru vende-se às multinacionais e manda massacrar indígenas

Não seríamos mais de uma dúzia

Quando vierem tirar-me a casa já não haverá ninguém para me apoiar

A insustentável corrente do Rio

Hacklaviva é um grito

A PJ censura

Dois dias de acções directas em defesa dos squats e espaços autónomos

Organiza a tua raiva!

Organizei a minha raiva!

Cicloficina

ABBADON

O espectáculo vai começar!


Antes Verde Eufémia que Amarelo Transgénico

O Pica Miolos

Se não conseguires sintonizar a RaDIYo CasaViva, não mudes de rádio, muda de computador. Pois é, sem que seja preciso aparelho de rádio algum, a Rádio CasaViva está no ar aos sábados, a partir das 17h00, desde 31 de Outubro. Um mês depois ressurgiu o Indymedia Portugal.


30 de Novembro não foi escolhido ao acaso: completavam-se 10 anos sobre a reunião da Organização Mundial do Comércio, em Seattle, que trouxe à rua a insatisfação global da população e que deu origem à criação da Rede Indymedia. Uma ferramenta para que “a voz não nos esmoreça”, para “agitar”, “empurrar” e “animar a malta”, parafraseando o Zeca, especialmente evocado nesse dia, na CasaViva, com O Canto de Intervenção, uma iniciativa da Associação José Afonso, promovida no âmbito das comemorações dos 80 anos de nascimento do músico.


Informar a malta sobre o massacre de indígenas do Peru a mando do governo, em prol de um tratado de comércio livre que só favorece as multinacionais, foi o que tentou algum pessoal em Lisboa e no Porto, em Julho, numa tarde que, a norte, havia de terminar de modo insólito, com a “cola de saco”.


“De saco” incorrem 11 pessoas que em 25 Abril de 2007 participaram numa manif anti-autoritária, em Lisboa, então agredidas e detidas por agentes policiais, sem que tenha soado qualquer ordem prévia de dispersão. Às voltas com a justiça está também o Centro de Cultura Libertária, que corre risco de despejo. E também quem viu, no final do Verão, a sua casa vasculhada pela PJ e pertences seus apreendidos, incluindo o computador pessoal, por suspeita de ter colocado um post na Rede Libertária. Sem esquecer três outros arguidos por, alegadamente, terem destruído um hectare de milho transgénico, no Algarve.


Por estas e por outras, Hacklaviva é um grito e o nosso voto não foi para as urnas neste ano repleto de eleições, em que a insustentável corrente do Rio reforçou a maioria. Lutemos contra o anjo do abismo, organizemos a nossa raiva! Preferencialmente de bicla. O espectáculo já começou. É deste lado do activismo que a CasaViva vive e resiste.

Se não conseguir sintonizar a Rádio CasaViva, não mude de rádio, mude de computador

Toda a gente sabe que a informação nunca é imparcial, mas pior é quando é apenas monopólio do capital. As rádios são "piratas" porque é perigoso que as pessoas percebam que podem ter voz... que no bairro do lado se passam exactamente os mesmos problemas, mas eles incendiaram a junta de freguesia...



As coisas não surgem por acaso, surgem porque as pessoas as fazem. As liberdades de Abril costumam terminar em quedas de escadas em esquadras, ou em roubos de computadores, e "a censura não existe" quando os sítios "problemáticos" deixam de existir.


As ideias não têm que gerar dinheiro para serem boas. E mesmo se não forem "boas", valem só por si, e plo facto de haver quem acredite nelas. As utopias só o são até se tornarem em coisas reais, tal como até há 300 anos seria utópico o "Homem" voar. E enquanto as pessoas correm para centros comerciais, para competirem pla última promoção de estricnina, sob a forma dum adoçante light milagroso, nós continuamos a dizer que bastava pôr mel.


E enquanto vidas se prostituem, para perpetuar mega-empregadores-proxenetas, nós entramos em orgias de ideias e actos repletos de orgasmos revolucionários que nos elevam ao céu, e damos calduços em dEUS, enquanto lhe dizemos: "nós também criamos, ó palhaço!"


E caímos com os pés bem assentes na terra. E falamos de coisas "sem sentido", mas que para nós nos fazem muito, pois aqui o Tempo não é dinheiro, e saber mudar o pneu do carro é muito melhor do que pagar a um mecânico. E não ficamos à espera que alguém fale por nós, e se a voz não é "bonita" ainda se pode pôr um "pitch shift" por cima, tal como o fazem na tv quando as pessoas querem o anonimato.


E levas com um black metal (não nacionalista) e a seguir com um faduncho (não nacionalista) pois não somos tod@s iguais. Achamos que a "sociedade" tem que ser feita por quem faz parte dela, e não por quem pensa que está acima dela.


E se nos cortarem o piu, vamos emitir para o wifi da câmara municipal, na esperança que também o cortem. E no dia em que isto mudar, a música voltará a ser feita por nós, rufos de tambores e cocktails soarão sem medo da lei do ruído, e os servidores do ministério da administração interna e afins serão emissores de rádios livres para um mundo livre.


RaDIYo CasaViva: se nós o fazemos, porque não o conseguirás tu fazer também?




A RaDIYo CasaViva
está no ar
aos sábados
a partir das 17h00

E como a rádio é feita por todos nós, vimos por este meio informar-te que podes tornar-te parte dela. Por isso: grava (não precisa de ser nenhuma gravação xpto, basta haver um micro) a agenda de actividades do teu colectivo, as conversas que por aí se passam, a poesia que curtias divulgar, a música que fazes ou curtes escutar, as ideias que te passam pla cabeça, tudo aquilo que te apetecer e envia-nos (em mp3) para radiocasaviva@gmail.com
À falta de melhor... manda-nos um email, que divulgaremos a informação no sábado seguinte, embora seja da nossa preferência que seja feito por ti mesmo. Porque a informação independente somos nós que a fazemos!

www.radiocasaviva.blogspot.com

Indymedia Portugal reactivado


O Centro de Media Independente (CMI) Portugal foi reactivado para que qualquer um de nós tenha também uma voz alternativa aos grandes meios de comunicação deste país. Trata-se de um centro de informação livre e independente, que funciona para que as pessoas possam tornar-se elas mesmas meios de informação.



O CMI Portugal pretende pôr em prática todos os mecanismos da imaginação que permitam, em conjunto, criar, aqui e agora, fragmentos de um mundo melhor. O desafio é grande, mas quem está envolvido acredita que um colectivo de pessoas empenhadas em construir algo em conjunto conseguirá fazê-lo, enquanto esse empenho se mantiver, ultrapassando as várias barreiras que forem surgindo.


Está online desde o passado dia 30 de Novembro. Para assinalar o acontecimento, foi publicado e lançado nesse dia na CasaViva, um Indyzine que apela à participação de “todos os que, como nós, acreditam que a realização voluntária, colectiva e horizontal de um meio de informação é, ao mesmo tempo, uma machadada nos paradigmas actuais e uma experiência de trabalho num mundo que se vai transformando. Um apelo para que se juntem a esse mundo, para que se povoe de gente e, portanto, de novas possibilidades de ser melhor”.


A Rede Indymedia nasceu no final de Novembro de 1999, no calor da revolta de Seattle, como uma dimensão fundamental do movimento global. Um movimento que ultrapassa as tricas separadoras dominantes da acção política tradicional (reformismo/revolução, local/global, violência/não violência) e inventa respostas práticas para lhes esquivar, desde os fóruns sociais, como forma organizativa que tenta superar o canibalismo político, até à “desobediência civil protegida”, como original prática de rua.



portugal.indymedia.org

10 Anos de Seattle

Faz agora dez anos que, a 30 de Novembro de 1999, reuniu em Seattle, nos Estados Unidos, a Organização Mundial do Comércio (OMC) para, decidindo sobre a regulação das transacções económicas no globo, definir o destino da sua economia.


Como habitualmente, a OMC, contando com o beneplácito dos grandes meios de informação, propunha-se fazê-lo com base em soluções concertadas a partir dos interesses das grandes potências e dos grupos económicos internacionais que aquelas servem ou protegem, reforçando ainda mais o poderio do capitalismo global, na sua fase moderna, ultraliberal, mas com o precioso concurso da economia planificada.


Reagindo a esta cimeira, várias dezenas de milhares de pessoas de muitas proveniências ideológicas e geográficas acorreram a Seattle, e durante vários dias fizeram saber nas ruas que o alegado consenso com que os poderosos justificam a rapina sobre os mais pobres e a depauperação acelerada dos recursos e do desequilíbrio do planeta não passa afinal da conjugação de políticas de interesse muito particular que, a coberto do embuste televisivo, escondem a fraude económica e o crime ambiental elevados ao mais alto expoente, permitindo de forma decisiva a miséria e a catástrofe.


E procurando tornar audíveis e compreensíveis as razões do protesto, os manifestantes juntaram à luta de rua a luta para furar o bloqueio noticioso imposto pelos grandes grupos de média – câmaras de eco da voz do poder e do dinheiro–, criando canais noticiosos alternativos e difundindo os relatos verídicos, as imagens reais, as entrevistas e comentários, não com base numa informação pré-condicionada pela censura política e policial, mas numa perspectiva de intercâmbio e entreajuda, livre de direitos autorais e de condicionamentos externos, ouvindo os intervenientes directos do protesto, com respeito pelas suas próprias palavras e argumentação ou, melhor ainda, sendo estes mesmos os próprios jornalistas.


Esta cobertura dos acontecimentos, beneficiando das possibilidades das redes de comunicação digital abertas, permitiu o acesso à informação livre de milhões de pessoas em todo o mundo e deu origem à criação da rede de centros de média independentes – Indymedia – que haveria de se alargar por todo o mundo e cuja criação celebramos hoje.



Nos 80 anos de Zeca lembramos os 10 de Seattle

Vejam bem, Seattle foi apenas a primeira face visível e a Organização Mundial de Comércio (OMC) tão só o pretexto para o que, há muito, se vinha a cozinhar, a necessidade de acordar a malta, de ser suficientemente confrontacional para trazer para a arena pública a voz duma oposição global ao sistema capitalista (e não apenas à OMC) que, pelo que se lia nos jornais e se via nas tvs, não existia. Afirmando, no coração do império, que o imperialismo não passará.


A insatisfação saiu à rua num dia assim, trazida por centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Foi há dez anos, no dia 30 de Novembro de 1999. Em Seattle, mas também no Porto, em Lisboa, em Londres, em Berlim, na Índia ou na Nova Zelândia. Gente que acreditava que era preciso desmascarar o mundo para o qual se caía e se continua a cair. Com acções mais ou menos espectaculares, a resposta à globalização tornava-se definitivamente global. Festas, flyers, cartazes, ocupações, acções de protesto ou sabotagem, manifestações, palestras, debates, tudo serve e tudo serviu para avisar a malta e fazer com que solidariedade fosse mais do que uma palavra com sete sílabas, um redondo vocábulo.


Mas é por Seattle que a data é, dez anos passados, recordada. Foi lá que, pela primeira vez, os poderosos foram confrontados com a sua fraca figura perante os que trilham os caminhos do pão e se viram incapazes de reunir, alguns de saírem do quarto de hotel. Foi lá que uma imensa mole humana os fez repensar a impunidade com que estavam a impor os seus desígnios. E foi em Seattle que a alternativa se apresentou ao mundo como um meio e um fim. Se pode haver dúvidas quanto ao consenso sobre que mundo novo construir, a forma como a contestação se organizou foi, ela própria, um novo mundo, opondo à actual organização topo-fundo ou centro-periferia, uma horizontalidade em rede.


E provando, na prática, que, dando poder à malta, ela se organiza e atinge objectivos. Potenciada pela existência da internet, a organização baseou-se na autonomia dos vários colectivos e indivíduos que a compunham. Havia um objectivo claro, pessoas para o levarem a bom porto, ferramentas para o atingirem, e isso bastou para que milhares de pessoas se organizassem e fizessem o mundo andar sem ter à frente um capataz.


Muitas das decisões dos dias de Seattle foram tomadas na rua, pelos próprios participantes. Essas assembleias, onde cabiam todos os interessados, que decidiam, entre eles, o que havia, de comum, a decidir são o alicerce dessa alternativa que, assim, se propunha. /This is what democracy looks like/, qualquer coisa como /É este o aspecto da democracia/, foi uma das palavras de ordem mais ouvidas nas movimentações de rua. O Povo é quem mais ordena, lembrar-se-iam se essa memória neles existisse.


Mas Seattle foi ainda o berço de outra proposta, desta vez ao nível da informação. Sabia-se, tendo em conta os propósitos desses dias, que a polícia não ia deixar que uma multidão, pura e simplesmente, impedisse a OMC de reunir. E sabia-se também, tendo em conta que os proprietários dos meios de comunicação estariam representados nessa reunião, que a cobertura sobre os eventos seria baseada na velha premissa da polícia contra os desordeiros. E surgiu o Indymedia, um centro de media independente de todos os poderes, para dar voz aos que não tinham espaço mediático. O lema /Be the Media/, qualquer coisa como /Sê os meios de comunicação/, diz tudo.


Como tudo estará dito ao saber-se que este centro de média se reproduziu pelos cinco continentes, onde foram criados centenas de Indymedias locais, organicamente unidos por laços
fraternos e decisões assembleárias de todos os interessados. Com o objectivo de libertar a malta das grilhetas da informação uniformizada, da mera transmissão do pensamento dos poderosos, para ajudar o formigueiro a mudar de rumo. Uma rede mundial de informações, onde os sujeitos das acções são os jornalistas e onde uma nova e imensa minoria pode aceder a informações, pensamentos e análises normalmente ausentes do debate público. E um local, também, de inspiração, onde as acções de uns servissem de mote e alento para que outros abandonassem a apatia. Uma ferramenta, enfim, para que a voz não nos esmoreça, para agitar, empurrar e animar a malta.


Foi assim, Seattle, uma cidade que, apesar de sitiada, se manteve sem muros nem ameias. Como todas as coisas bonitas, um ponto na história em que a simplicidade aparente esconde uma teia de complexidades. Como uma canção do Zeca. Que, com referências mas sem saudosismos, sejamos capazes de os repetir, ao Zeca e a Seattle, é a nossa mais profunda esperança, o móbil do que fazemos.


30 Novembro 2009

Eu voto aqui

domingo, 27 setembro

No dia a seguir às eleições, o sol vai nascer mais bonito, o céu vai estar mais azul, o teu ordenado vai subir, a tua casa vai ficar mais barata, as árvores vão dar frutos por tempo indeterminado, o desemprego desaparece, o ensino vai-te fazer mais humano, a saúde ficará mais acessível, a justiça mais verdadeira e eficaz, a crise vai ser paga pelos seus causadores e outros detentores de riquezas pornográficas.


E, daqui a quatro anos, vão-te explicar exactamente a mesma coisa, com este ou outro embrulho, dependendo da agência publicitária que tu lhes pagares. E assim sucessivamente até ao fim dos tempos, que eles, ainda por cima, zelam por antecipar. Em alternativa, até que te dês conta que, cada vez que delegas a gestão da tua vida na mão de auto-proclamados especialistas estás a dar-lhes carta branca para que tratem, em primeiro lugar, dos interesses deles.


Se quiseres participar, é contigo. Depois não te queixes, é só o que dizemos. Se não quiseres, podes sempre passar pela CasaViva, onde também há urna de voto, só que com uma entrada maior e sem exigências quanto ao número de vezes que dobras o papel.


plataforma-abstencionista.blogspot.com

CCL ameaçado de despejo

Apenas o recurso mantém suspensa a ordem de despejo do Centro de Cultura Libertária, em Cacilhas, emitida pelo Tribunal de Almada. O CCL é um dos raros locais anarquistas que se mantém em Portugal, criado logo após a revolução de Abril.


O espaço é um encanto, num primeiro andar, com sótão, de um prédio centenário muito próximo do cais fluvial de Cacilhas, em Almada. Foi criado há 35 anos por velhos anarquistas. Mantém os ideais de sempre e um espólio especial. Corre o risco de despejo, por vontade do proprietário e anuência judicial, conforme sentença de 2 de Novembro passado, que deu então 20 dias ao Centro de Cultura Libertária para abandonar a sua casa. O CCL recorreu e aguarda-se agora a decisão final do tribunal, que pode anular a ordem de despejo, levar a um novo julgamento ou reiterar a sentença já emitida. Não se pode prever qual será a decisão ou quanto tempo esta levará a ser tomada. Sabe-se apenas que, caso o recurso seja recusado, o CCL tem 10 dias apenas para abandonar o seu espaço.


Na decisão do tribunal não foram tidas em conta as testemunhas do CCL, incluindo dois vizinhos, que desmentem as acusações do proprietário quanto ao suposto ruído que o centro produziria e à realização, por parte do mesmo, de pretensas festas que se prolongariam pela madrugada. A motivação do senhorio, proprietário de vários edifícios na região de Lisboa, parece clara: despejar uma associação que paga uma renda mensal baixa (52,50 euros) e cujo contrato só pode ser rescindido através de uma acção de despejo, abrindo assim o caminho à rentabilização do imóvel.


O CCL é único pela sua longevidade e pelo papel de preservação da memória histórica libertária que desempenha, mas também pela ligação afectiva que gerou em várias gerações de anarquistas, que nele encontraram um espaço de aprendizagem, de experimentação e divulgação das suas ideias, um espaço fundamental de pensamento, cultura e liberdade. Possui uma biblioteca e um arquivo únicos em Portugal, com material editado ao longo dos últimos cem anos, assim como uma livraria de cultura libertária.


”À semelhança dos/as companheiros/as que lutaram para que este espaço existisse, resistiremos uma vez mais, e NÃO perderemos o CCL nem às mãos dos tribunais, nem da especulação imobiliária, nem por nada”, garantem, em comunicado distribuído à população local e disponível na Internet, os actuais arrendatários do espaço. Para tal, apelam à solidariedade de todos os que também sentem que este espaço, parte integrante da identidade e da memória histórica de Cacilhas, deve continuar onde sempre esteve. E a solidariedade passa também pelo apoio monetário, que continua a ser fundamental para enfrentar os elevados custos de um processo judicial.


culturalibertaria.blogspot.com

Polícia viola direito constitucional

Onze pessoas que participaram numa manifestação anti-autoritária em 25 de Abril de 2007 foram constituídas arguidas e enfrentam acusações que podem levar a penas de seis meses a cinco anos de prisão. São acusadas de “desobediência à autoridade”, quando apenas se defendiam da carga policial a que foram sujeitas nesse fim de tarde, em Lisboa, sem que tenha soado qualquer ordem de dispersão prévia. O julgamento está marcado para 22 de Janeiro.


Diz a Constituição da República Portuguesa que Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização e que A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação (artigo 45º. direito de reunião e de manifestação), bem como que Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública (artigo 21º. direito de resistência).


No entanto, no dia 25 de Abril de 2007, agentes da autoridade decidiram actuar violentamente sobre um grupo de pessoas que se manifestava na Rua do Carmo, em Lisboa. Se tal não chegasse para violar o direito constitucional à manifestação, os agentes intervieram sem antes emitirem qualquer ordem de dispersão, desrespeitando preceitos legais. Na sequência da carga policial, foram detidas 11 pessoas e constituídas arguidas, acusadas de agressão, injúria agravada e desobediência civil, e sujeitas à medida de termo de identidade e residência.


“Querem convencer-nos que o mundo é o inverso daquilo que realmente acontece, uma vez que as únicas agressões à polícia foram em legítima defesa, postura à qual não se deve renunciar”, afirmam, em depoimento tornado público, alguns dos envolvidos no processo. Garantem que ”a polícia não tentou dispersar ninguém, pelo contrário, quis bater, espancar e atacar os manifestantes” e consideram que, “com o apoio dos media, as forças policiais criminalizaram o protesto, procurando encontrar legitimidade para a sua acção repressiva”.


O julgamento esteve inicialmente marcado para 7 de Dezembro passado, mas foi adiado para 22 de Janeiro próximo, devido a falha do tribunal na notificação dos arguidos.



Peru vende-se às multinacionais e manda massacrar indígenas

Para transpor para nível nacional as prerrogativas do Tratado de Comércio Livre (TCL) assinado com os EUA, o governo peruano impôs leis que facilitam a implantação de companhias petrolíferas, de gás, de minas ou ligadas à exploração florestal ou do turismo, concedendo o direito de exploração dos recursos naturais existentes, o que abalará por completo o modo de vida das populações e que levará a uma destruição ambiental sem retorno.


Em Maio de 2009, por ocasião do 4º Encontro Continental dos Povos e Nacionalidades Indígenas de Abya Yala (América), as comunidades presentes recusaram categoricamente a privatização da água, a presença de multinacionais e o modelo económico neoliberal. Durante cerca de dois meses, milhares de indígenas do Peru praticamente paralisaram a região da Amazónia peruana, com bloqueios nas principais vias de transporte e sabotagem de infraestruturas. Levantaram, assim, um debate nacional sobre os limites do desenvolvimento e sobre quem manda na Natureza. Deixaram também claro que não entregarão de mão beijada nenhuma das suas terras ancestrais.


A 4 de Junho, uma coordenadora de 1350 comunidades no Peru apelou ao “estado de insurreição” e a que se fizesse do dia 11 de Junho um dia de mobilização popular para destruição das leis que fomentam o investimento estrangeiro nas zonas ocupadas por autóctones. No dia 5 de Junho, a polícia peruana atacou brutalmente manifestantes na região de Bagua, no Norte do Peru, resultando na morte de cerca de 50 indígenas da floresta amazónica, em mais de 100 feridos e vários desaparecidos, tendo também sido detidas perto de 130 pessoas.


Com os seus planos a descoberto e as mãos sujas de sangue, o governo peruano teve que retroceder nos seus intentos de exploração, já não só da mão-de-obra dos trabalhadores mas também do próprio território e habitat do seu povo, em especial das comunidades camponesas e nativas. No dia 18 de Junho, numa maratona negocial no Congresso peruano, votou-se a derrogatória das leis e do regime jurídico para o aproveitamento das terras de uso agrário, que entregava à ferocidade das multinacionais os recursos existentes nos territórios das comunidades nativas. Nessa sessão histórica para as comunidades da selva, conseguiu-se um triunfo momentâneo. Momentâneo porque com a assinatura do TCL os territórios nativos já estão loteados a favor dos interesses económicos multinacionais.

Um assunto que os media calaram

Esta é uma luta que não é só dos povos amazónicos, mas que se alastra a todos nós, já que pretende preservar aqueles que são os poucos vestígios de um mundo selvagem que tem vindo a ser arrasado em nome de um dito progresso com o único objectivo de enriquecer alguns à custa da devastação do nosso planeta.


Em resposta ao apelo internacional da União Socialista Libertária do Peru, para a realização de iniciativas solidárias com a luta dos povos indígenas no dia 8 de Julho, a Rede Libertária – redelibertaria.blogspot.com – convocou para essa tarde uma concentração em Lisboa, e a Iniciativa Libertária do Porto promoveu, na baixa da cidade, uma acção de informação.


A tarde de Julho no Porto havia de terminar de modo insólito para quem apenas pretendia informar os transeuntes sobre um assunto que os media calaram. Seis meses depois, seguem dois registos, que ficaram por publicar, do mesmo episódio.

Não seríamos mais de uma dúzia

8 de Julho, baixa do Porto

Não seríamos mais de uma dúzia, os que decidimos acorrer ao apelo da Iniciativa Libertária do Porto para uns momentos de agitação e informação sobre a luta dos povos indígenas e camponeses do Peru contra a voragem das multinacionais e a cobertura que o Estado peruano, como qualquer outro, lhe dá.


Aproveitando os vidros dum edifício devoluto que são uma base quase quotidiana de colagem de cartazes de actividades de entretenimento, colamos um painel alusivo ao que ali nos levava e iniciamos a distribuição de folhetos explicativos, em Sampaio Bruno. Ora, esse tal edifício faz esquina com Sá da Bandeira, artéria mais movimentada, aberta ao trânsito e com paragens de autocarros, pelo que nos pareceu inteligente que, sem mudar de edifício, colássemos um segundo painel noutra rua.


Aí, o mesmo esquema, duas pessoas a colarem vagarosamente as 20 folhas A3, mais meia dúzia a distribuir panfletos a quem passava. Antes de termos metade do trabalho acabado, apareciam os já quase omnipresentes agentes da autoridade, desta vez, para variar e rematar leques iniciados anteriormente, da polícia municipal, a explicarem-nos que não se pode colar cartazes ali, que é indiferente que não seja directamente nos vidros mas em cima doutros cartazes a anunciar a próxima peça do La Féria no seu Rivoli, cartazes esses cujos coladores não tinham sido importunados pela polícia por, lá está, afinal serem omnipresentes apenas nas nossas actividades.


Como apontamento de humor surreal, note-se que um dos cartazes exposto num dos vidros desse mesmo edifício anunciava as corridas de pópós da Boavista, organizadas pela mesma Câmara cujo regulamento proíbe que ali se colem cartazes. Vinham para identificar um, lá se convenceram que tinham que identificar todos e acabaram por não identificar ninguém.


À parte este já recorrente encontro com as força da ordem, fraquitas, no caso, cujo diálogo daria, por si só, para um texto, há a reter algumas coisas. A primeira é que a baixa do Porto não tem hora de ponta. As ruas estão semi-desertas. Conseguimos, ainda assim, distribuir largas dezenas de folhetos a quem passava por lá. Os restantes foram e continuam a ser distribuídos noutros locais.

Por fim, a também habitual nota de tristeza referente à pouca participação, principalmente porque o ajuntamento fazia parte da estratégia para chamar a atenção e afiar a curiosidade. Esta não era uma acção de massas, não se tratava duma manifestação, nem sequer duma concentração, e o dobro da malta teria chegado para criar um aglomerado de gente suficientemente estranho para que mais pessoas se tivessem interrogado sobre o que se estava a passar e lessem, com redobrada atenção, o papel que recebiam.


Ainda assim, valeu a pena, porque haverá sempre alguém que, pelo menos, ficou a saber duma situação que os média pura e simplesmente calaram.



Quando vierem tirar-me a casa já não haverá ninguém para me apoiar

8 de Julho, baixa do Porto

O segundo painel ficou incompleto, apareceu a bófia e levou a cola “de saco”. Não, não chegou a ir de saco mas chegou a ir para um saco, para as traseiras da carrinha da polícia municipal. Tal como o resto do mural, 4x5 folhas A3. Logo a seguir ao “chefe” se irritar e voltar atrás: Ai vocês querem assim, então vamos fazer a sério, avisou, arrebatando os A3 do chão e os flyers que apanhou mais à mão, enquanto um outro, de um magote de pelo menos quatro à paisana, tomava conta do frasco da cola.

Apenas se queria que o único a ser identificado não fosse em exclusivo quem passava a cola a pincel no sexto A3 dos 20 do mural improvisado, por cima de um cartaz, no já clássico edifício de esquina das ruas de Sá da Bandeira e Sampaio Bruno onde nada acontece há anos se não cartazes por cima de cartazes nas suas grandes montras de vidro. Começava o mural a ganhar forma quando um homem, de estatura baixa, cerca de 50 anos, calças de ganga e camisa clara, se esgueirou entre quem aplicava a cola e quem segurava o frasco, em brusca abordagem, mostrando o crachá da PSP como que à socapa. Tanto assim, que quem dava ao pincel julgou tratar-se de um senhor atento à aplicação da lei, por isso continuou a passar o pincel enquanto esse mesmo senhor lhe dizia que, independentemente da luta em causa, não podia ali colar cartazes. O dito senhor agente à paisana não gostou e exigiu a identificação do aparente insubordinado, cujos dados apontou em papel de rascunho.

Aí é que surgiu o “problema”: Se ele é identificado, eu também quero ser, reclamou de imediato um companheiro. Que não, respondeu o agente, só o vi a ele a pôr cola, que quando ele for chamado, aí, sim, podem ir testemunhar... Não podia ser, ele não estava ali sozinho. Mas só o vi a ele a pôr a cola, insistia o agente, já em direcção à carrinha estacionada. Então eu também vou colar... Ao ouvir tal, um dos outros agentes como que se assustou, chamou o chefe que se afastava e alertou que estava em vias de acontecer um desrespeito à autoridade. É nesta altura que o chefe, voltando atrás, desabafa, num impulso, que, assim sendo, a coisa seria a sério.

E antes, seria a brincar? ocorre-me enquanto apalavro este registo.

Continuando. A sério. O material e a comitiva, de um lado e do outro, seguiram para a carrinha. Do lado do tipo da cola, havia mais uns 10, já todos afiambrados à identificação. Acautelado o frasco da cola em saco plástico, não fosse entornar-se na carrinha, começou o levantamento do “material apreendido”: 15 A3, contou e escreveu o chefe. O colega, ao lado, avançava com o registo das identificações. O chefe observava o material apreendido, captando a mensagem que se pretendia transmitir. O processo começou a enrolar, o chefe a aconselhar o pessoal a pedir licença na câmara municipal, há lugares onde é permitido colocar informação sem pagar. De um momento para o outro, o chefe estava simpático. Já a publicidade não pode ser distribuída na rua, mas pode ser introduzida nas caixas do correio, explicava.

A conversa mudara de tom. E se na sua caixa de correio houver um papel afixado a dizer “publicidade aqui não” e lhe aparecer lá um flyer da vodafone, quem é que vai processar em primeiro lugar, é a vodafone, não é? insistia o gajo que insistira em ser identificado. A observação tinha a ver com a argumentação de que a câmara municipal devia processar o Filipe La Féria por os cartazes dos seus espectáculos no Rivoli estarem colados nos grandes vidros da montra do tal clássico edifício na esquina das ruas de Sá da Bandeira e de Sampaio Bruno. O que levara um dos agentes a perguntar se o que estávamos a fazer tinha alguma coisa contra Filipe La Féria. A confusão desvanecia-se. De um momento para o outro, acabando de ler o flyer, o chefe exclama, amarfanhando o auto que preenchia: Sabem que mais, vão à vossa vida. De imediato, o colega, que ia no registo da terceira testemunha, amarfanha também o seu rascunho. Estou solidário com a vossa luta, assegurava o chefe enquanto arrumava a pasta. Um dos colegas mais novo ainda lhe pediu: Diz àquele senhor para apagar as fotografias. Mas o chefe ou não ouviu ou fez de conta.

Seria a sério a solidariedade? Seria que passaram na carrinha tipo em fim de turno e não resistiram a interpelar quem colava cartazes na rua? Ou já estavam avisados da ocorrência?

A excessiva pormenorização do incidente com a autoridade pretende apenas registar o absurdo da defesa de leis “menores”, de que a própria autoridade aparentemente tomou consciência, face à ignomínia de outras leis, como as que o governo peruano se prepara para aplicar. Nessa tarde, na baixa do Porto, 8 de Julho, a causa era solidária com a luta dos povos indígenas do Peru, contra os decretos legislativos aprovados no seguimento do Tratado de Comércio Livre com os EUA. Em resposta ao apelo da União Socialista Libertária, a Iniciativa Libertária do Porto convocou uma Acção de Informação na baixa da cidade. Preparada quase em cima da hora, foi participada por email a cerca de 500 pessoas. Proporcionalmente, foi superior o número de polícias que ocorreu ao local quando comparado com o número de pessoas que aderiram à acção.

Ficou um mural completo na rua de Sampaio Bruno, num dos vidros da montra do edifício onde há anos não se passa nada no interior. E foram distribuídos, entre os poucos transeuntes que passavam na baixa às seis da tarde de uma quarta-feira de Verão, algumas dezenas de flyers com informação sobre a situação actual no Peru.

A insustentável corrente do Rio

Rui Rio, pelo menos desde que preside à Câmara Municipal do Porto (CMP), sempre assumiu que as instituições que tivessem o mais leve odor a democracia não eram para considerar.


Mesmo a lei, normalmente tão cara aos que exercem cargos na administração pública, é, para ele, uma coisa a ser utilizada com parcimónia e ponderação. Se ajuda o Senhor Presidente, utilize-se desbragadamente, nem que seja daqueles decretos salazarentos que Abril se esqueceu de revogar, como no caso do despejo sem direito a realojamento de várias famílias do Bairro S. João de Deus. Não se duvida que haverá uma reprise deste drama, quiçá com uma encenação menos à Rambo e mais à La Féria, num Aleixo perto de si.


Se a lei é ambígua ou inexistente, utilizem-se os seus buracos para entregar a destruição e futuro aproveitamento de espaços emblemáticos da cidade a privados, como quase aconteceu no Bolhão. Ou para pagar obras de fundo com dinheiros públicos e doar os seus benefícios a amigos, como aconteceu no Rivoli.


Se, por fim, a regra é inimiga do Senhor Presidente, altere-se urgentemente, como está a acontecer com o PDM que, veja-se o desplante, previa espaços para equipamentos escolares em pedaços da apetecível encosta para o Douro. Ou então, esqueça-se a lei, para o que é preciso o lógico e solícito beneplácito do corpo de imposição da ordem mais à mão, no caso a Polícia Municipal, e detenham-se e abandonem-se bem longe todos os toxicodependentes que se atrevam a arranjar uns trocos em esquemas de rua.



De muitas outras situações se poderia falar em relação a este senhor e à sua paixão pela prepotência. São casos em que quem é violada não é a lei, é a dignidade da cidade e dos seus habitantes e frequentadores, como no actual e gritante caso da construção dum centro de congressos empresariais nos jardins públicos do Palácio de Cristal.


Voltemos um pouco atrás no texto e à frente no tempo. Ainda a última legislatura vai no adro e já o Senhor Presidente se apressa a destruir o que resta de democracia aqui no burgo. Há pouco tempo, decidiu que não valia a pena que a Assembleia Municipal, o órgão legislativos da CMP, relembre-se, reunisse mais do que uma vez a cada quinze dias. A reunião do dia 15 de Dezembro, por exemplo, acabou por ter 21 pontos em discussão. Como é natural em reuniões destas, mais de metade não é discutido, quanto mais decidido. Preocupado com a incapacidade de decisão da Assembleia Municipal, que Rui Rio decidiu que só deveria reunir de duas em duas semanas, o Senhor Presidente não se tem inibido de pedir autorizações legislativas para processos “mais urgentes”, de forma a agilizar o funcionamento da autarquia.


Delicioso, não?


Hacklaviva é um grito

As nossas vidas estão cada vez mais technologizadas. Às vezes para bem, por vezes escraviza-nos. Por outro lado, há quem queira viver as relações de modo horizontal, a pensar global e a actuar local, de Fazendo Nós Próprios.

A CasaViva permitiu que nos encontrássemos 2, 4, 5, 8... com a pica comum pela libertação através de ferramentas informáticas. Pouco tempo depois, tornou-se óbvio a mistura da CasaViva com o Hacklab que deu origem ao nome hacklaviva.net. Organizamos oficinas e actividades de forma espontânea, com muitos erros de difusão. Não entendíamos/entendemos a nossa ambição de oferecer espaços públicos 24h/7 para experimentação com tecnologias, de partilha de nerdices com computadores, que de seguida transferimos para outros aspectos das nossas vidas.

O nome hacklaviva que escolhemos não podia ser outro. Hacklaviva é um grito, não pode ser outra coisa. Um grito que agora retumba em outros espaços, como o da Gesto. Sempre tivemos e temos o Musas e outros para fazer outras nerdas, mas também não somos assim tantas pessoas para fazê-lo bombar por completo. Gostamos de alguma centralização - sem nos dispersarmos demasiado, facilitando os nossos encontros... *). É nestes espaços que vemos os olhos dos nossos nicks amigxs. Onde podemos ter chats, enviando x10 mais mails que o normal. Onde resolvemos pequenas dúvidas facilmente, planeamos a resolução de outras mais avançadas ou começamos a editar/desenhar/programar melhor.

Estás desde já convidado a participar ou lurkar, quer sejas fã de ciências ou de letras, de design ou programadorx, de gnome, gentoo, willingtu ou outro, gaja ou nerd, só precisas de gritar hacklaviva!

E se te sentires bem depois, então hacklaviva.net/contacto.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A PJ censura

Um computador foi apreendido e uma pessoa foi constituída arguida por, alegadamente, ter colocado um post na Rede Libertária.


No passado dia 10 de Setembro, pelas 8 horas da manhã, a Policia Judiciária (secção de combate ao terrorismo e banditismo) entrou numa casa em Lisboa, com mandado de busca e apreensão. Os três agentes da PJ vasculharam duas divisões da casa, tiraram fotografias, recolheram literatura, fazines e material informático, nomeadamente um computador, discos externos e dvds.


Foi constituído um arguido sob alegação de ter colocado um post na Rede Libertária. Segundo o próprio contou via email, "fui levado à secção de combate ao terrorismo e banditismo da Polícia Judiciária, na Av. Columbano Bordalo Pinheiro, onde acabei por ser informado do que sou acusado: deram-me como arguido num processo por difamação e incitação à violência. Na base deste processo está um post colocado no blog em http://redelibertaria.blogspot.com/2009/01/blog-post.html. Mostraram-me documentos (do google e da pt) que dizem ter havido uma ligação da parte de um administrador do site a partir da minha linha adsl de acesso à internet num dia do princípio de Fevereiro deste ano. Sendo que a minha rede está aberta e acessível a alguma distância da minha casa, não é possível eu conseguir saber quem terá postado o post".


Conforme se pode ler no post que a Rede Libertária publicou a dar conta da infeliz ocorrência, “o disparar para todos os lados da PJ acertou, aleatoriamente, num indivíduo que nada tem a ver com o projecto da Rede Libertária”. E, mesmo se tivesse, “é pidesca a forma como a polícia entra, remexe, vasculha, leva o que bem lhe apetece, quando bem lhe apetece, como bem lhe apetece, sempre com o selo branco do Estado”. Fazemos nossa a opinião da Rede Libertária.

Dois dias de acções directas em defesa dos squats e espaços autónomos

Este é um apelo à mobilização de pessoas envolvidas com squatters e espaços autónomos para dois dias de acção, em 18 e 19 de Setembro de 2009, focando a questão da habitação e a criação de mais espaços autónomos, nestes tempos de "crise".


Enquanto a economia global fica moribunda, uma série de grandes projectos de desenvolvimento capitalista, como a construção de apartamentos de luxo e complexos comerciais, que estavam a ameaçar as nossas casas e bairros, são colocados em stand-by. Mas, ao mesmo tempo, este novo ciclo de "crise" do capitalismo gera milhares de desempregados, sufocados por dívidas e sob um risco iminente de serem expulsos das suas casas. Em vez de abrigar os pobres em muitos espaços vazios ou cancelar as suas dívidas, os governos socorrem os bancos para salvar este sistema podre e reprimir aqueles que resistem.


Enquanto resistência, ficamos na defensiva por muito tempo e é hora de conduzir a luta, atacando o capitalismo onde ele está frágil e quebrando as correntes, para ocupar casas e criar espaços em que podemos rejeitar relações de mercado, partilhando conhecimentos adquiridos através da luta, numa dinâmica ofensiva. De Dijon a Berlim, em dezenas de locais onde as actividades ocorreram em defesa dos squatters e espaços autónomos, em Abril de 2008, novos grupos foram formados, as redes têm-se intensificado, mais e mais pessoas estão envolvidas em lutas.


Enquanto movimento, acreditamos que o poder e a dominação devem ser combatidos de várias maneiras: apelamos a acções descentralizadas, coordenadas e de confronto em 18 e 19 de Setembro de 2009.


Organizemos a nossa revolta!

Ocupemos, resistamos, criemos!


Apelo lançado após o encontro inter-squatter britânico que teve lugar em Bristol, nos dias 14 e 15 Março de 2009.

squatmeet09.wordpress.com

Organiza a tua raiva!

Squat Meet'09

A notícia anunciava “cabaré na casa okupada”. Ainda no início, cita “uma ex-jornalista, agora okupa”. Para de seguida corrigir: “Mas esta okupação é diferente”. Também era diferente o acordo apalavrado para a CasaViva aceitar a reportagem a que o jornalista da actualidade aspirava. O rapaz apresentou-se como baixista de uma banda que já tocara na casa, como participante da génese de uma okupa a sul, acabara, entretanto, o curso de jornalismo, vivia em Lisboa e estagiava num jornal novo, queria contrariar o estigma social quanto aos okupas, respectivo movimento e forma de estar. “Mas olha que a CasaViva é uma okupa consentida!” Ele não sabia (ainda que conste na informação disponível na internet) mas manteve o interesse pela reportagem. E o pessoal da CasaViva acabou por aceder, se bem que houvesse relutantes.


Não podiam estar mais certos. Dizia o rapaz que queria desmistificar a antipatia pelos okupas, no entanto não teve qualquer pejo em estereotipar a ficha do okupa, com pormenores quase sórdidos: como veste e se penteia ou não, com quem anda, o que come, quantos cães tem, num destaque, em espaço privilegiado, a acompanhar a suposta reportagem, que seria simpática se não mentisse, ao confundir informação. E desrespeitosa do pretendido anonimato pessoal exigido. Até mesmo conflituosa, relativamente à relação entre o pessoal da casa e os proprietários da mesma. Mas isso nem interessa aqui. A reportagem só interessa aqui enquanto exemplo do preconceito, descontando erros de profissionalismo.


Há indiscutivelmente preconceito em relação aos okupas. E há um sentimento de posse danado, e muito desconfiado, em relação à propriedade por parte de quem a detém. No Porto, pelo menos, onde nos encontramos, o que é extensível ao país. Se é verdade que o Porto se está a afundar em casas devolutas, também não é falso que quem as ocupa são sobretudo agarrados, em busca de um espaço para chutar, dormir e cagar. Um problema que se desvia do objectivo deste texto, mas que não pode deixar de ser referido quando falamos de okupas e okupações. Também não foi esse o tipo de okupa estereotipado pelo jovem jornalista.


Diz na wikipédia: “Okupa é um termo libertário derivado da palavra ocupação, sendo que seu equivalente na língua inglesa é squat. O termo faz referência especificamente ao acto de ocupar um espaço ou construção, abandonada ou desabitada, sem permissão de seus proprietários legais, não para transformá-lo numa propriedade privada, a ser alugada ou vendida, mas com o objectivo de criar uma esfera de sociabilidade e vivência libertária. Para os contrários ao movimento, tais ocupações nada mais são que invasões de propriedade”. Correcto!


A CasaViva foi um achado. Um espaço devoluto cujos proprietários estavam disponíveis a emprestar temporariamente (enquanto fecha e não fecha o processo de partilhas e a casa se vende) para um projecto sem fins habitacionais e sim para abrir à cidade, com intenção de provocar e acolher outros projectos das mais diversas áreas, preferencialmente diferentes, que se desviem de ideias feitas. De acesso livre. Não demorou a enveredar por um caminho tendenciosamente anti-capitalista, demarcadamente apartidário e com pretensões activistas. O que transcende o espaço. O espaço em si funciona sob esses princípios. Até ver, e desde Abril de 2006, na praça marquês de pombal, 167, porto, mediante contrato de comodato. Um empréstimo que tem como prazo o prazo que os proprietários queiram, com pré-aviso de um mês para deixar a casa. O documento diz especificamente o fim a que o imóvel se destina – projecto CasaViva, sem fins lucrativos – e as contrapartidas a retribuir pelos comodatários: zelar pelo edifício, melhorá-lo, se possível. O tal jornalista da deturpada reportagem diz que chamamos ao modelo “a okupação do futuro”. Talvez nenhum de nós, dos três ou quatro que falaram com ele (da dezena mais directamente envolvida com a CasaViva), tenha dito exactamente isso, mas o rapaz quis que sim. E até nem parece absurdo de todo. O perigo do slogan é que cheira a especulação imobiliária, e o objectivo do projecto é exactamente o contrário. A ideia é expandir o conceito para outros espaços da cidade: motivar grupos de pessoas com afinidades a estruturarem um projecto de reabilitação de um imóvel e convencerem os respectivos proprietários de que isso é possível. Ainda não aconteceu, que saibamos. Talvez em breve.


Mas há outros espaços no Porto que funcionam numa outra relação com a propriedade mas com imensas afinidades: Musas, Terra Viva, Casa da Horta, Gato Vadio, com os quais quisemos partilhar a resposta ao apelo para um Squat Meet 09 squatmeet09.wordpress.com, 18 e 19 de Setembro. Já num fim-de-semana de Abril de 2008 nos juntamos numa resposta semelhante, se bem que muito diferente da actual. Em vez de um fim-de-semana de acção directa, desta vez optamos por um encontro de troca de ideias e projecção de acções. Exactamente com vista a atingir o desafio: Organiza a tua raiva!


Dizem os números oficiais que no centro histórico do Porto, classificado Património da Humanidade, há 293 edifícios devolutos e 591 com ocupação parcial, de um universo de 1796. Sabemos que fora desse limite há muitos mais, mas estes chegam. Organiza-te e Okupa!

Organizei a minha raiva!

Éramos muitos, às bezes quase meia dúzia.

Almoçámos bem, conversa interessante mas não sobre okupação. Casa da Horta, casco histórico do Porto. De seguida, escalada ao Terraviva. Conbíbio na rua e bisita a um telhado próximo. Nova escalada ao Terraviva, cumbersa amena, que se prolongou na sala de estar improvisada por outros no jardim da Cordoaria. Peregrinação à okupa em restauração, para assistir à Estratégia do Caracol. Valeu a pena.Peregrinação ao marquês, janta e conversa nikles. Fim de sábado.

Domingo, projecção de curtas sobre okupações e rebeliões urbanas no Gato Vadio. Éramos muitos, mais de meia dúzia.


O verdadeiro turista só foi um, eu e mais nenhum: conheci a casa da horta, o telhado de c&b, a okupa em restauração e o vadio do gato, portanto, balanço positivo no squat.porto.


Organizei a minha raiva!

Para quê revolução se ninguém a quer?

Ou para quê revolução se os que querem cá não vão estando?

Ou, então, para quê a revolução se só a queremos para os outros?


Registo de um portuense enraivecido

Todas as vésperas da penúltima 6ª do mês

Tens uma bicicleta em casa, mas não está boa para andar? Gostavas de conhecer malta que gosta tanto de biclas como vocês? Queres aprender a sujar as mãos e fazer as tuas próprias afinações e reparações?


A Cicloficina é isto tudo e muito mais, um punhado de voluntários utilizadores de bicicletas no dia a dia que aparece uma vez por mês na CasaViva para fazer coisas simples como mudar uma câmara de ar ou remendar um furo, encher os pneus, afinar os travões ou as mudanças, regular a altura do selim, apertar umas porcas e parafusos, etc..


Geralmente, não se fazem substituições de peças porque não as temos (pensamos em criar um baú de peças usadas utilizáveis), mas, para isso, poderemos encaminhar-te para uma oficina de bicicletas devidamente equipada e profissionalizada. Consoante as circunstâncias (e se o Hugo aparecer ;) ) haverá workshops sobre como afinar e reparar os vários componentes e aproveitar o processo para ensinar outras pessoas a fazer este tipo de coisas.


Desde Junho passado, todas as vésperas da penúltima sexta-feira do mês. cicloficina.wordpress.com

ABBADON

Comecemos pelo nome, cuja relação com o texto e com a peça é poética, não é linear. É apenas um início. Abbadon é o anjo, ou demónio, as opiniões divergem consoante a perspectiva, do abismo. Traz o caos. Muitas vezes esse abismo esteve nos ensaios e todos os envolvidos num momento ou noutro se perderam. Vimo-nos a transbordar processos que nada tinham de sensato. Mas, quase sempre, acabamos a rir. Ou a chorar. Sempre houve generosidade. Bastantes vezes "Inferno". Olá Rimbaud. Mas não é sobre isto. Será sobre "cavar"? Olá Paul Celan. Talvez. É sobre o Amor. Algo como, meus senhores vocês vivem mal? Para texto de apresentação e mais informações ver nuisiszobop.blogspot.com

Este é um excerto da tira de papel que acompanhou cada um dos espectadores de Abbadon, espectáculo invulgar que esteve de novo em cena na CasaViva, desta vez, melhor dizendo, na Casa do Lado, de 28 de Setembro a 25 de Outubro. Desta vez, quase uma centena de pessoas viram Abbadon, com lotação esgotada a 11 seres humanos por sessão.


Abbadon tem criação, direcção e texto de Hugo Calhim Cristóvão; criação, actuação e desenhos de Paula Cepeda Rodrigues; e contou com a assistência e colaboração de Joana von Mayer Trindade.

Para maiores de 18 anos.

O espectáculo vai começar!


Vem à gala e veste-te a rigor.
E o que é o Cabaré?

Um palco, umas mesas, algumas cadeiras, paredes, chão de madeira, um balcão, um corredor e um jardim... tudo pronto a ser preenchido por...

Pelo quê?

Por um apresentador, un garçon, messieurs et mesdemoiselles... que estão entre o novo circo e o clássico teatro, o absurdo e a lógica matemática, a magia e a filosofia, os contos e os descontos... a espontaneidade e liberdade de todos os que, mesmo não o sabendo, gostariam de experimentar-se...

É um laboratório aberto por cima e por baixo do palco!

Traz-te a ti e aquilo que gostarias de encontrar... roupa, instrumentos, comida, máscaras, lantejoulas, plumas, rosas e muita alegria!



Estreou ao fim da tarde de domingo, 28 Junho, e despediu-se noite dentro, com promessas de regresso.

Antes Verde Eufémia que Amarelo Transgénico

A 17 de Agosto de 2007, cerca de 150 pessoas dirigiram-se à Herdade da Lameira, perto de Silves, para protestar activamente contra o cultivo de transgénicos, num acto simbólico que ceifou menos de um dos 51 hectares de milho transgénico da propriedade, a primeira a cultivar desse milho, no caso da variedade MON810, num Algarve oficialmente “livre de transgénicos”.

Podia-se esperar que a reacção imediata fosse a da recriminação do agricultor, criando uma pressão pública que o obrigasse a aceitar as sementes biológicas que os activistas lhe ofereciam e que chegavam para replantar a totalidade dos 51 hectares. Mas tinha-se mexido na propriedade, esse direito que, por estes dias, se sobrepõe a todos os outros. Nomeadamente, ao direito de ser agricultor vizinho e ter uma produção de milho sem contaminação de campos OGM. Ou ao direito de, sendo consumidor, esperar que se prove a inocuidade de determinado produto antes de o lançar na cadeia alimentar. Ou, finalmente, ao direito a agir em conformidade com as ameaças que nos apresentam, de forma a que, pelo menos, seja possível trazer debates importantes para fora do parlamento e de minúsculos artigos de opinião.


Porque não foi mais do que isso que o Movimento Verde Eufémia fez. Servindo-se duma acção simbólica carregada de espectacularidade, conseguiu furar o academismo da discussão a que se assistia até então e trazer a questão dos organismos geneticamente modificados para a praça pública. Ao fazê-lo, teve ainda o mérito de arrastar consigo a necessária discussão sobre a legitimidade da desobediência cívica como forma de participação.


Neste momento, três pessoas foram constituídas arguidas e o proprietário já abriu as hostilidades e faz uma enorme pressão para que a pena seja exemplar. Deixar estas pessoas sem apoio é abrir a porta tanto aos transgénicos como à possibilidade de mais ninguém ter a coragem para fazer algo semelhante ao que o Movimento Verde Eufémia fez. Toda a solidariedade é importante. Seja, unicamente, na divulgação da perseguição aos movimentos contestatários, seja no apoio financeiro aos arguidos para suportarem as despesas judiciárias do processo em que foram envolvidos.


A CasaViva, para além de estar a organizar concertos benefit para o início do próximo ano, tem tratado de obter alguns fundos com t-shirts e pins alusivos, que, se quiseres ser solidário, podes encontrar aqui pela cozinha.











Mais info: solimove.liveinfo.nl | eufemia.ecobytes.net

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Índice

O Pica Miolos


O espectro da liberdade surge sempre com uma faca nos dentes


Casa assaltada, faixas à mostra


Interlúdio: a censura no myspace


Mordamos-lhes os calcanhares!


Chamem a polícia, que eu não saio da praça


Fui ao jardim do DIAP giroflé flé flá


Uma comédia em três actos


Quando a cidadania fica refém da intolerância


Está caladinho, senão levas no focinho!


SEF processa activistas


Solidariedade11novembro


Anarquistas saqueiam supermercado


Responsáveis do Pirate Bay condenados a prisão


26 de Abril


Cravos há muitos ó democráticos... E revoluções?


O Pica Miolos

A polícia, que não gosta que lhe chamem bófia, tirou a faixa da fachada da CasaViva. Não foi por não gostar que lhe chamem bófia, mas por achar que incitava à violência. A faixa foi retirada a 5 de Janeiro, dia a seguir a um jovem português morrer baleado por um polícia. A faixa fora colocada a 20 Dezembro, dia internacional de solidariedade com a luta do povo grego, desencadeada pela morte de um jovem grego baleado por um polícia.


Exemplo flagrante do aumento da repressão aconteceu em França, em Novembro passado: 20 pessoas foram detidas numa mega-operação policial; uma ainda está presa, nove foram acusadas de terroristas. Ontem em França, amanhã…


Portugal, Almada, Janeiro: uma acção de defesa de uma zona pedonal termina com uma inusitada descarga policial. “Custa realizar que a polícia portuguesa não distingue uma dúzia de jovens, mulheres e crianças rodeados por idosos e cujas armas eram tambores e flyers, de um grupo de terroristas com caçadeiras”, lamenta Lanka Horstink.


Porto, Março: três pessoas foram multadas por terem participado numa manifestação por melhores transportes públicos. Em Janeiro, o julgamento de quatro activistas acusados pelo SEF de “difamação agravada” transitou do Tribunal do Bolhão para o de S. João Novo, designado “mais competente para julgar o caso”.


Na Suécia, quatro responsáveis pelo site de partilha de ficheiros Pirate Bay foram condenados a prisão e a avultadas multas. Ao myspace, chegou a censura.


Na CasaViva, os mais recentes episódios envolvendo a autoridade não se limitaram à apreensão de uma faixa e atingiram requintes dramáticos de romance policial, com um mistério por desvendar transformado em comédia. Talvez a saída passe por gozar com isto tudo e seguir o exemplo do grupo de anarquistas galegos.


Por tudo isto e muito mais, e porque o Pica Miolos continua a seguir critérios necessariamente tendenciosos, este número é dedicado à repressão da autoridade, que cada vez mais aperta o cerco. Trinta e cinco anos sobre a revolução de Abril, os cravos estão definitivamente murchos. O admirável Portugal novo vê-se confrontado com vícios de ditadura e revoluções encravadas.

O espectro da liberdade surge sempre com uma faca nos dentes
















Ao contrário do que nos querem fazer crer os meios de comunicação, o assassinato, às mãos da polícia grega, no passado dia 6 de Dezembro, do jovem de 15 anos Alexandros Grigoropoulos (Alexis) não foi um incidente isolado. Tratou-se, antes, duma explosão do Estado repressivo que, de forma sistemática e organizada, aponta para os que resistem, os que se revoltam, os que combatem o estado actual das coisas e a autoridade que lhe dá corpo. Tratou-se, enfim, da escalada do ataque generalizado a toda a sociedade, que pretende impor formas mais rígidas de controlo e exploração e que se reflecte diariamente nos “acidentes de trabalho”, na perseguição e encarceramento de imigrantes, na pobreza, na exclusão social, na chantagem para que nos integremos num mundo de divisões sociais, todos crimes daquilo a que, geralmente, se chama o Sistema.


Tudo, claro, bem regado pela guerra ideológica coordenada entre os mecanismos dominantes de comunicação e os poderes, que nos convencem de que não há alternativa, pelo menos até que uma crise ponha a nu as contradições do seu modelo, altura em que decidem que serão novamente eles, os arquitectos do modelo falhado, a guiar-nos para novos paradigmas. Das escolas transformadas em armazéns de putos, às universidades onde se tenta criar carreiristas acríticos, passando pelos espaços tétricos da escravidão assalariada em que nos encerram e pelas fronteiras de arame farpado onde se impede que os deserdados apoquentem o banquete, a democracia e o capitalismo mostram a sua verdadeira face. Da mesma forma, as chamas nas ruas de várias cidades gregas não são uma resposta unicamente direccionada ao assassinato policial. Sem o sufoco social crescente que acompanha a raiva que agudiza a revolta contra a morte de Alexis, não haveria essa característica fundamental que os protestos gregos trazem em si, a de se voltarem contra a estrutura vigente e não apenas contra a conjuntura governamental ou repressiva do momento.


Neste contexto, as pedras arrancadas das ruas gregas e atiradas à polícia ou às catedrais do mundo-feira, as garrafas ardentes que recortam os céus, as universidades ocupadas e transformadas em assembleias de debate aberto, todas as acções e tentativas, são pedaços do mundo insubmisso, livre, fraterno e justo com que, eles e nós, sonhamos. A sua coragem para continuarem a resistir apesar da porrada, da prisão, das nuvens de gás lacrimogéneo e das balas é um exemplo para que não nos calemos nunca perante o medo e o silêncio que nos querem impor e que, ao invés, os utilizemos como detonador do levantamento contra o terrorismo legal que pratica o Estado e da criação de algo novo, fundado em novos princípios.


Utilizando as leis “anti-terroristas” que, por toda a Europa, se têm imposto da forma como sempre as têm utilizado, as autoridades estão, neste preciso momento, a deter os que lutam e a confrontá-los com acusações como “associação criminosa”, num ambiente devidamente temperado pelos meios de comunicação, verdadeiros guardiões do status quo, que, com a sua propaganda que vê “violência” numa montra partida e “normalidade” num ser humano a morrer à fome, pavimenta o caminho à repressão, de forma a que tudo volte à fatalidade da injustiça e da submissão.


Daqui, queremos deixar bem claro que não temos dúvidas sobre o lado em que estamos. Ao lado dos que apelam “não deixem este hálito flamejante de poesia atenuar-se ou extinguir-se”. Solidários com os que lutam, com os detidos nos confrontos dos últimos dias, com todos os que se juntaram à mesma luta no Chipre, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Holanda, Reino Unido, França, Itália, Polónia, Turquia, Estados Unidos, Irlanda, Suécia, Suíça, Austrália, Eslováquia, Croácia, Rússia, Bulgária, Roménia, Bélgica, Nova Zelândia, Argentina, México, Chile e, certamente, muitos outros locais deste Planeta que é nosso.







20 Dezembro 2008

Dia de solidariedade

com a luta do povo grego



Casa assaltada, faixas à mostra

Nas democracias policiais, a liberdade de expressão é um direito de todos os cidadãos. Também por isso lhes chamam democracias. Mas esse direito tem limitações, coisa lógica nesta sociedade onde se definiu que “uma liberdade acaba onde começa a do outro”, impedindo-se, assim, que se interpenetrem, que se prolonguem uma na outra. Pensamentos perigosos, que poderão constituir um qualquer crime se tornados públicos, e que, portanto, ficam por aqui. Já basta o que basta, dizia o outro, como sempre, cheio de razão. O que agora interessa, de facto, é que, em primeira instância, quem define as limitações das liberdades, e, por arrasto, as da liberdade de expressão, é a polícia. Também por isso lhes chamamos, a essas democracias, policiais.


Na Casa Viva, logo no primeiro dia oficialmente útil da semana, tivemos mais uma prova de que Portugal se insere nesta categoria de democracias. Por volta das 15h00 desse 5 de Janeiro, os Bombeiros Sapadores do Porto, a mando da Polícia de Segurança Pública, também presente, retiraram, assim, sem pedidos nem explicações, a faixa solidária com o movimento grego que a Casa vinha exibindo desde 20 de Dezembro. O motivo da apreensão, tal como informado no respectivo auto, é “incitava à violência, cometendo o crime contra a paz pública”. Não fosse o tal adjectivo que acompanha a nossa democracia e ter-se-ia tratado de um roubo. Afinal, uma faixa não publicitária numa fachada duma casa particular só pode ser retirada se tal for pedido pelo proprietário, o que não aconteceu. Mas o facto é que esse adjec­tivo está lá por alguma razão e, em estando, o acto de surripiar transforma-se em apreensão, os prevaricadores em sujeitos activos de acusação e as vítimas em réus.


Pode-se olhar para a faixa pelo ângulo que se quiser, mas é precisa muita liberdade de interpretação para nela ver um incentivo à violência. Mas, lá está, essa é apenas mais uma das liberdades das democracias policiais que, como todas as outras, tem uma definição e um âmbito dependentes do livre arbítrio dos agentes da Autoridade, gente que se costuma acusar de ser pouco dada a divagações poéticas, mas a quem não podemos deixar de gabar a capacidade de ler nas entrelinhas ainda mais do que os autores das linhas queriam fazer transparecer.


No processo de roubo/apreensão da faixa, os agentes acharam por bem deter três pessoas que saíam da casa a ver o que se passava do lado de fora do sítio onde lhes tinham oferecido guarida. Estavam, aparentemente, a utilizar de forma ilegal numa casa que não é deles. Mas houve queixa do proprietário? Falamos com ele e ele disse que não devia estar ninguém em casa. Falaram com ele?! Bem... a casa está em ruínas e não pode estar lá gente a viver! A Casa está em ruínas? Quem falou em ruínas? Então porque é que estão detidos? Não houve detenções, só os trouxemos à esquadra para assinarem o auto de apreensão. A uns gajos que não têm nada a ver com a casa nem com a faixa? Mais alguém dá a cara pela faixa? Claro que sim! Então já não estão detidos, podem sair os três e até voltar para a casa em ruínas onde, para além de não poderem estar por causa dessa sua – da casa – condição, não podiam estar por falta de autorização do proprietário.


Ora então cá temos os responsáveis pela faixa. Basta que um assine o auto de roubo/apreensão, que os outros já estão identificados de qualquer forma, apesar de nunca lhes termos controlado legalmente as identidades. Agora a coisa vai para o DIAP e já não é mais nada connosco, que vocês aparecem aqui aos magotes e a malta quer ver o discurso do Sócrates sem medo de que nos ocupem esta merda, perdão sr. ministro, esta esquadra, tão lindamente baptizada como sendo do Paraíso, apesar de, para tal, ainda faltarem os canais da Sport Tv, vá lá que nos resta a TVI e as novelas com gajas boas. Depois, daqui a seis meses, um ano, ou dois, o DIAP lá decidirá se a queixa da PSP é válida e, se não for, a faixa será devolvida. No entretanto, a gente fica sem a faixa de que o agente não gostou e assim mesmo é que é numa democracia policial.


Ora, é provável que o DIAP considere que a faixa, de facto, mais do que um apelo à violência, é um grito contra a sua utilização por quem lhe detém o monopólio e que, como tal, o seu roubo/apreensão até pode, pelo menos em teoria, configurar um atropelo à liberdade de expressão. Pouco interessa. Não será por isso que a Casa será deixada em paz. Há a questão da ocupação ilegal. Ah, é verdade... o proprietário autoriza a ocupação do espaço. Mas há a questão das drogas. A questão das drogas? Sim, a casa está conotada com drogas. Conotada por quem? Pela polícia. Mas entraram lá ilegalmente para ver essa questão? Nem pensar... mas cheira muito a charro no passeio quando se passa por perto. O quê? É verdade... e, ainda por cima, entra lá gente com mau aspecto! Isso não é discriminação? A polícia não discrimina... limita-se a ver se determinada pessoa tem determinado aspecto e, se o tiver, fica imediatamente associada ao consumo de drogas. E isso não é discriminação? Não desconversem... é que há a questão da propriedade! Ah, é verdade... o proprietário autoriza a ocupação do espaço. Pois é... então, há a questão das drogas. E sabem quem vai sofrer com isso se não tomam cuidados?


Os processos de intimidação à divergência apertam-se. Espera-se que o medo de qualquer coisa, independentemente do que seja, impeça as pessoas de se manifestarem, de exporem opiniões, de se levantarem perante as injustiças dos poderosos. Depois de visitas policiais à Casa em dias de reuniões, depois de visitas regulares ao blog, veio o roubo/apreensão da faixa, um processo-crime sobre “os responsáveis pela faixa”, o reconhecimento policial de que já estamos todos fichados e as ameaças de que, ou atinamos, ou nos fecham a Casa e nos mandam de saco, por causa da questão da propriedade, aliás, por causa das drogas, aliás por qualquer coisa que lhes apeteça.


O problema é que achamos que nós é que somos os atinados e não nos apetece, agora que os desvarios juvenis já passaram na sua maioria, desatinar e começar a comer tudo o que nos dão ou a baixar a cueca cada vez que nos tentam violentar. Para além de que a Casa, assim sem uma faixa, parece despida. E nós não queremos um processo-crime por atentado ao pudor.