Cinema Comunitário
Que estranha situação é viver numa grande cidade europeia e não poder ir ao cinema. É verdade que Gaia e Matosinhos é mesmo aqui ao lado, mas não vamos entrar por aí. É-me incompreensível sobrarem apenas dois locais na cidade onde posso ver cinema. Por todo o mundo se fala na necessidade de prescindir do automóvel, mas no Porto de Rui Rio temos de atravessar a “fronteira”, de carro, para ir ao cinema.
Foi a partir deste ponto ridículo que surgiu a ideia de organizar um ciclo contínuo de cinema para a comunidade. Aproveitando o facto de que já existia um centro social autónomo na cidade, com bases e infraestruturas organizadas, não foi difícil dar asas ao projecto. A ideia, pela sua simplicidade, não opôs grandes obstáculos. Cada mês um filme, todas as primeiras terças-feiras de cada mês. Em questão de semanas passávamos o primeiro filme e depois foi sempre andar. No início apareceram meia dúzia de caras pintadas, mas hoje já se contempla promover o ciclo de cinema comunitário para o salão nobre da CasaViva.
Sendo a CasaViva um local dedicado à expansão do conhecimento e cultura, a selecção de filmes tenta corresponder às necessidades intrínsecas de tal condição. Até agora foram privilegiados os documentários de produtoras alternativas, debatendo variados temas como os media, ambientalismo, as grandes mobilizações internacionais e história. Mas a longa lista de filmes para as futuras sessões inclui muito mais, como por exemplo obras de ficção e até mesmo alguns blockbusters, pois até de estrume é possível tirar algum proveito. Só faltam mesmo as pipocas e os bilhetes. Mas como o milho é transgénico e vender bilhetes equivale a roubar, não nos vamos exceder.
A recepção tem superado todas as expectativas, principalmente porque estas eram nulas. Não é só o número das audiências que tem vindo a crescer progressivamente, mas a participação vem ganhando novas cores de mês a mês. Expandiu-se o espaço virtual para a troca de ideias, experiências e vontades, chegando mesmo a ser um novo, a juntar-se a outros, ponto de partida para novas acções e iniciativas.
Por esta mesma razão, o cinema comunitário é muito mais do que uma sala de cinema. Preenche um vácuo na sociedade que há muito pedia para ser completado. O grande objectivo é que estas sessões passem a ser ainda mais frequentes, mais completas e eficazes. A organização de debates depois de cada filme; a presença de cineastas para apresentarem as suas obras; estreias exclusivas de novos filmes; apresentação de um mini boletim de vídeo com acções por esse mundo fora; etc., são tudo ideias que em breve esperamos desenvolver. Para isso, será necessário uma maior participação de todos aqueles interessados e são bem vindos todos os que nele quiserem participar, que nele quiserem pegar, que dele quiserem usar e até certo ponto abusar.
Portanto entra em contacto com a CasaViva ou vai ao cinemacomunitario.blogspot.com. Traz ou propõe filmes, ideias e alguma boa vontade.
Enfim, faz do cinema da tua comunidade o teu cinema.
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