O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

sábado, 8 de novembro de 2008

Uma horta com couves, ervas aromáticas, maracujás, ervilhas, alfaces e grelos, em que os pesticidas e os fertilizantes artificiais estão banidos




























Dizia o outro que no princípio era o verbo. Há, ainda hoje, tantos anos depois do outro o ter dito, discussões sobre qual verbo seria esse e, houvesse casas de apostas, e teríamos um muito especial com uma cotação miserável de tanta gente o escolher. Mas anda enviesada, a discussão. No início não era verbo nenhum. Eram as silvas. Um emaranhado brutal de paus, folhas e picos, impossível de penetrar e que, nessa virgindade, se ia fortalecendo, fazendo com que os desbastes sazonais mais não fossem do que cócegas, salvaguardando todo o respeito por quem levava a cabo essa tarefa.


Que se lixe lá a trabalheira de acabar com o silvado, a gente tem espaço na parte de trás da nossa casa e não precisamos agora de aventuras no quintal do vizinho, cuja casa é, bem vistas as coisas, tão nossa como a nossa, entenda quem quiser. Mas algum iluminado achou que o nosso naco de terra era necessário para a própria casa e as suas paranóias culturais e políticas, havia que deixar a possibilidade de um cinema ao ar livre, tínhamos que pensar em que houvesse espaço para poder dissecar nazis vivos.


Nunca se viu filme algum lá fora e nenhum nazi nos deu o prazer de uma visita, mas, como sempre acontece quando há iluminados, a malta foi toda atrás da sua luz e, de repente, as silvas transformaram-se em pencas, os vidros da estufa destruída pelo tempo de abandono tornaram-se alfaces e já damos por nós sem ter que fazer compras para a sopa. Nada nos move contra o Minipreço. Pelo menos, nada mais do que contra outra superfície comercial qualquer. Ou industrial, já agora. Ou, mesmo, de serviços. Vem de lá a nossa cervejinha e muito do que metemos para o papo, principalmente o melhor bolo de chocolate de plástico do mundo. Mas, cada vez que comemos sem pagar, sentimos que damos uma machadada no coração do capitalismo. Pelo menos quando não é o David a tratar do picante.



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