Uma horta com couves, ervas aromáticas, maracujás, ervilhas, alfaces e grelos, em que os pesticidas e os fertilizantes artificiais estão banidos
Dizia o outro que no princípio era o verbo. Há, ainda hoje, tantos anos depois do outro o ter dito, discussões sobre qual verbo seria esse e, houvesse casas de apostas, e teríamos um muito especial com uma cotação miserável de tanta gente o escolher. Mas anda enviesada, a discussão. No início não era verbo nenhum. Eram as silvas. Um emaranhado brutal de paus, folhas e picos, impossível de penetrar e que, nessa virgindade, se ia fortalecendo, fazendo com que os desbastes sazonais mais não fossem do que cócegas, salvaguardando todo o respeito por quem levava a cabo essa tarefa.
Que se lixe lá a trabalheira de acabar com o silvado, a gente tem espaço na parte de trás da nossa casa e não precisamos agora de aventuras no quintal do vizinho, cuja casa é, bem vistas as coisas, tão nossa como a nossa, entenda quem quiser. Mas algum iluminado achou que o nosso naco de terra era necessário para a própria casa e as suas paranóias culturais e políticas, havia que deixar a possibilidade de um cinema ao ar livre, tínhamos que pensar em que houvesse espaço para poder dissecar nazis vivos.
Nunca se viu filme algum lá fora e nenhum nazi nos deu o prazer de uma visita, mas, como sempre acontece quando há iluminados, a malta foi toda atrás da sua luz e, de repente, as silvas transformaram-se em pencas, os vidros da estufa destruída pelo tempo de abandono tornaram-se alfaces e já damos por nós sem ter que fazer compras para a sopa. Nada nos move contra o Minipreço. Pelo menos, nada mais do que contra outra superfície comercial qualquer. Ou industrial, já agora. Ou, mesmo, de serviços. Vem de lá a nossa cervejinha e muito do que metemos para o papo, principalmente o melhor bolo de chocolate de plástico do mundo. Mas, cada vez que comemos sem pagar, sentimos que damos uma machadada no coração do capitalismo. Pelo menos quando não é o David a tratar do picante.
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