O Pica Miolos foi à feira
Das catedrais do fado que há em Lisboa, uma havia de dar guarida à feira do livro anarquista. Livros, revistas, fanzines, cds, cartazes, camisolas, pins e outros que tais anti-autoritários entre xailes de franjas vermelhas e fotografias de fadistas; e conversas muito participadas sob um tecto requintadamente pintado. Se o cenário era insólito, o objectivo foi de todo concretizado: criar um espaço para a exposição e debate das ideias e lutas libertárias, assim como para o convívio e fortalecimento de laços entre pessoas que partilham uma visão anti-autoritária do mundo.
Nada se concluiu, obviamente, valeu pelas ideias, conhecimentos e momentos trocados, por repetidas que muitas sejam, as ideias e as pessoas. Mas também havia quem, por circunstância de vida ou de idade, só então pela primeira vez participasse num encontro de anarquistas. Como aconteceu, por exemplo, com o Pica Miolos.
Jovens e menos jovens, havia sempre gente entre as bancas com informação nas salas principais do imponente edifício do Grupo Desportivo da Mouraria, nos dias 23, 24 e 25 de Maio passado. À noite, havia muita gente para jantar, conversar e ouvir música. Os debates marcados aconteciam de dia, seis no total, dois por tarde. Temas: causas e consequências da escravatura; prisões, dentro e fora; a contra-informação como arma de arremesso; publicações anarquistas de hoje; os anarquistas na sua relação com movimentos sociais; PINs e outros broches.
O Pica Miolos participou sobretudo enquanto contra-informação e não em particular como publicação anarquista, em que não se revê exclusivamente apesar da inquestionável identificação com os ideais defendidos. Não fosse haver dúvidas, seria identificado pela utilização da palavra “cidadania”, que não integra o léxico do mundo anarquista, no insurgir de um participante.
Absolutamente anarquista e reconfortante foi a forma como a Marta e o Maio (um tanto tarado ainda que obediente) acolheram o sono dos representantes do Pica Miolos. Um alojamento imprevisto de duas noites em Lisboa que merece registo.
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