O PORQUÊ DO PICA MIOLOS

Mais do que um espaço, a CasaViva é um meio de provocação. Nunca foi um projecto meramente artístico
ou cultural. Muito menos uma ideia comercial ou pretensão de figurar no mapa da noite portuense.

A CasaViva é um esforço de cidadania, um espaço de activismo, com aspirações a anfetamina que combata a letargia
e a incapacidade de indignação. Para contrariar essa instituída forma de pensar, ser e conformadamente estar e viver.

Se o espaço é temporário, o projecto não quer ser efémero. Nasce, assim, o "Pica Miolos", folha de opiniões
numa resenha de notícias que nos foram chegando e tocando mais profunda ou especialmente.

Seguirá um critério necessariamente tendencioso, como todos os critérios editoriais
de todos os media que se dizem imparciais. Objectivo: picar miolos.

E assim participar na revolução das mentalidades desta sociedade acrítica
e bem comportada e demonstrar de que lado do activismo a CasaViva vive e resiste.

sábado, 8 de novembro de 2008

Ya basta!

café zapatista no Porto

A cooperativa MutVitz, criada em 1997, cultiva o seu café biológico em Chiapas, Estado do Sul do México, uma das melhores regiões para essa cultura. Pretende, desde o seu início, combater as práticas injustas de comércio, em que os produtores de café têm que tratar com intermediários chamados “coyotes”, que fixam o preço do café e a forma de o pagar.

O cultivo do café não é a única actividade dos sócios. Também produzem milho, feijões… Mas a venda do café, sem dúvida o seu principal produto para venda, permite a compra de medicamentos e o financiamento de gastos de educação nestas comunidades, que não recebem ajuda do governo por serem território zapatista em rebeldia. A cooperativa de café MutVitz é, assim, um bom exemplo do nível de iniciativa das comunidades zapatistas e do seu compromisso em trabalhar respeitando os direitos indígenas e a dignidade humana.

Os zapatistas são um grupo indígena não violento que luta pelos direitos colectivos e individuais negados aos povos indígenas mexicanos: direito ao trabalho, à terra, a um tecto, à alimentação, à educação, justiça e paz. Muitos indígenas tinham investido na produção de café, nos anos 60-80, altura em que essa cultura teve um desenvolvimento importante. Com a crise dos anos 90 e a desregulamentação no contexto da globalização, muitos foram à falência. Essa crise e a supressão de um artigo da Constituição mexicana que garantia o carácter inalienável das terras colectivas, os “ejidos”, incitaram os agricultores a juntarem-se aos zapatistas. O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) tornou-se conhecido pelo público em Janeiro 1994, data em que entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), entre o México, os Estados Unidos e o Canadá. Este exército de alguns milhares de índios maias munidos de fuzis e com os rostos escondidos por um lenço ou um capuz (porque são qualquer ser humano e, ao mesmo tempo, representam todas as minorias intoleradas, oprimidas, explo­radas, que resistem) ocupou quatro localidades importantes do Estado de Chiapas. Disseram e continuam a dizer “Ya Basta!” à opressão e à negação dos direitos humanos. Lutam por via de acções simbólicas e golpes de comunicação, com escritos, diálogos com o exterior e com as declarações do porta-voz, o subcomandante Marcos. O movimento obteve, assim, o apoio da opinião pública.

O EZLN quer também a possibilidade de organizar as comunidades de um modo autónomo e independente, de acordo com a sua cultura (ao nível da saúde e da educação, por exemplo) e dum modo completamente democrático, uma vez que é o povo que toma as suas decisões sobre o que lhe diz respeito e não um chefe ou um governador que não conhece e não respeita o modo de pensar e viver dos indígenas.

Este movimento teve um eco mundial e há quem defenda que foi o tiro de partida do chamado movimento Alterglobalização. Colocou em cima da mesa da cena mundial toda uma série de possibilidades e exemplos que, longe de se converterem num modelo, são, hoje, uma referência para os excluídos do mundo globalizado, que viram na luta das comunidades indígenas em resistência uma esperança de mudança, novas formas de fazer política, credíveis, úteis, capazes de criar expectativas para os que nunca contaram, os sem voz, tanto nas aldeias índias como em todos nós que pensamos que há outras formas de entender o mundo.


Solidariedade com o movimento

Para já, não se pode falar de Rede de Distribuição. O que saiu das reuniões da CasaViva terá sido, antes, uma Rede de Consumo. Várias pessoas que se decidiram solidarizar com o movimento zapatista em geral e com a cooperativa MutVitz em particular. Por agora, o café será importado e comprado por intermédio do colectivo de solidariedade de Barcelona.




Contacto:

Delphine Armand

delphelfe@hotmail.com

Sem comentários: