Os encontros da galinha
Surgiram da necessidade de dar treino de conjunto às várias sensibilidades anti-capitalistas portuenses que andavam dispersas. A base era cada um aportar ideias onde todos pudéssemos caber. Não se pretendia a revolução para o dia seguinte. Achava-se, apenas, que era importante estarmos juntos, partilhando refeições, alegrias e disparos de adrenalina. E, porque não, desenvolver um certo espírito de vezeira, em que cada um se sente mais comprometido a estar atento ao que os outros fazem.
Talvez este seu aspecto nebuloso, esta aparência caótica onde nem os objectivos aparecem bem definidos, seja a razão, mas a verdade é que a estes encontros nunca apareceu ninguém muito distante da área libertária, apesar de nenhum dos convites para os quatro encontros já realizados alguma vez ter balizado as coisas nesses termos.
É sintomático de que se está no caminho certo o facto de nenhum dos encontros ter sido organizado da mesma forma que os anteriores. A cada ideia feita é sempre colocado o filtro da prática. E isso é o máximo a que pode aspirar uma organização, o poder reinventar-se permanentemente, de forma a que os princípios em que se baseia e os sonhos a que almeja sejam mais importantes do que os dogmas que existem sobre como fazer para se chegar lá. O que aconteceu a 19 de Julho, no Marquês, foi o reflexo dessa evolução.
Há já algum tempo que, no Porto, não se tomava uma atitude tão publicamente confrontacional. Claro que já se tinha, por duas vezes, ocupado o Jardim das Virtudes, como tomada de posição em relação ao seu prolongado encerramento. Mas não é, nem de longe nem de perto, tão visível como ocupar a biblioteca do Marquês. E nós, aproveitando, claro está, o facto de há uns tempos estar aberta, varremo-la, limpamos-lhe os vidros, preenchemo-la e colocámo-la ao serviço dos descendentes do mesmo povo que ofereceu à edilidade o coreto do jardim, também ele com uma utilização vergonhosamente residual.
O que se conseguiu naquele sábado não foi coisa pouca. Incitamos à ocupação. Pusemos em causa o direito à propriedade. Trata-se de gritos que, no abstracto, são, normalmente, alvo de repulsa pela generalidade das pessoas. Mas, quando confrontadas com uma situação concreta, uma coisa que as afecta directamente, essas mesmas pessoas acabam por irradiar solidariedade. Tu a dizeres Tenho direito a ocupar o que está abandonado e a malta a responder Acho muito bem. Isto parece uma coisa fundamental e que deve ser colocada num dos pratos da balança, principalmente por todos quantos consideraram que se tratou apenas duma festa inócua.
O registo completo em:
osencontrosdagalinha.blogspot.com/2008/08/marqus-em-festa-traz-comida-para-uma.html
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